Quem conta a história?

Por Daniela Valenga

Por séculos, os sujeitos que contavam a história eram invariavelmente europeus, homens, brancos e ricos.

O que os livros definem como “história geral” é a história europeia, em detrimento do resto do mundo.

E nem a história de toda a Europa é considerada, mas da parte ocidental. Regiões eslavas, por exemplo, também não são consideradas dentro da história geral.

É por isso, por exemplo, que a história do Brasil só era contada a partir 1500, momento definido como “descobrimento do Brasil”, apesar de centenas de povos já existirem no território.

Esse apagamento não ocorre somente em livros didáticos, mas é perpetuado na mídia e afeta a percepção da sociedade sobre ela mesma.

A visão eurocentrista é a base da supremacia branca, que discrimina as pessoas negras, indígenas, judias, asiáticas e ciganas como se fossem, de alguma maneira, “inferiores” às de origem europeia.

Da mesma forma, a visão única da história é a base usada por grupos conservadores para difundir o patriarcado e a heterossexualidade compulsória.

Hoje, ocorre um movimento dentro do próprio campo de estudo que é o de recontar o desenvolvimento histórico das sociedades.

São considerados os pontos de vista de sujeitas e sujeitos que não eram reconhecidos como tal, como mulheres, pessoas negras, pessoas indígenas e pessoas trabalhadoras.

É necessário ensinar, por exemplo, que no Brasil, antes de 1500, já existiam povos com línguas próprias, que praticavam a agricultura e construíam casas e abrigos de vários formatos.

É preciso recontar as histórias do mundo, não como algo individual que só existe numa linha do tempo, mas pelas realidades plurais dos diferentes povos que formam as histórias da humanidade.