Por que o feminismo precisa ser transinclusivo? 

Por Daniela Valenga

O feminismo é uma luta pela equidade e direitos das mulheres, incluindo mulheres cis e trans, dentro de uma agenda política mais ampla que questiona padrões discriminatórios de sexo, gênero, sexualidade e raça. 

O slogan “unidas, unides, resistindo e avançando!” do 15º Encontro Feminista da América Latina e Caribe, em 2023, demarca a convergência com o transfeminismo e identidades que confrontam os gêneros feminino e masculino.

“O Eflac é um pacto transfeminista por uma vida livre de violência; viver, desejar e sermos felizes”, diz trecho da carta final.

No Brasil o transfeminismo tem como uma das expoentes a pesquisadora Letícia Carolina Nascimento.

“O transfeminismo é o feminismo pensado a partir das experiências de pessoas trans e travestis”. - Letícia Carolina Nascimento.

Enquanto uma corrente, segundo Letícia, o transfeminismo emerge com bastante força desde os anos 2000. No Brasil, a partir de nomes como Aline Freitas, Jaqueline Gomes de Jesus e Hailey Kaas.

A pesquisadora aponta que o transfeminismo tem como pilares a ancestralidade do movimento trans e a interseccionalidade - sobreposição de identidades que podem provocar diferentes tipos de opressões.

Entre as convergências dos feminismos transinclusivos, Letícia destaca a compreensão de que gênero é um produto cultural e não uma dimensão biológica do ser humano.

Neon Cunha, uma das principais ativistas pelo direito da população trans no Brasil, concorda com a afirmação.

“Acho que essa é a maior lição do transfeminismo: a liberdade de existir na condição de ser quem se é para além das normas de gênero”. - Neon Cunha

Ainda segundo Letícia Nascimento, pessoas trans comprovam que gênero é cultural quando conseguem subverter a própria anatomia.

“Se o gênero é algo cultural, nós não nascemos com os nossos gêneros, nós construímos os nossos gêneros e as pessoas trans evidenciam os processos de construção de gênero”. - Letícia Carolina Nascimento.

A defesa do feminismo transinclusivo não é uma demanda política somente de pessoas trans, como o Eflac já apontou.  

“Somos todas [mulheres cis e trans] prejudicadas pelo patriarcado, pela opressão de gênero e pelos conceitos restritos de gênero, sexualidade, poder e valor. Nossas lutas estão interligadas.” - Senti Sojwal, ativista cis estadunidense pelos direitos reprodutivos.

Por exemplo, mulheres cis, trans e travestis são alvos de violências diárias, são descriminalizadas e sexualizadas em múltiplos ambientes, entre outras formas de opressão.

Mas, então, por que há pessoas que defendem que o feminismo e o movimento trans não poderiam andar em conjunto? E, mais do que isso, deveriam ser inimigos?

Para a comunicadora Lana de Holanda, a transfobia deixou de ser apenas o resultado da ignorância, da desinformação e do preconceito e passou a ser um projeto político.

“A ideia de que mulheres cis ou crianças correm algum tipo de perigo, pelo simples e tímido avanço de direitos das pessoas trans, é uma fantasia conservadora”. - Lana de Holanda.

O feminismo precisa ser transinclusivo porque todas as mulheres, cis e trans, enfrentam o mesmo sistema patriarcal que oprime e marginaliza. Juntas, somos mais fortes na luta por igualdade e liberdade.

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