O recado de Sueli Carneiro a Mano Brown

Fotos: Reprodução.

Por Gabriele Oliveira

"O maior medo que esse país tem é de uma consciência negra acontecer de fato, e se tornar uma força revolucionária!" 

Filósofa e escritora, Aparecida Sueli Carneiro é uma das principais ativistas do movimento negro e de mulheres negras. 

Doutora em Educação (USP), a paulista é fundadora do Geledés - Instituto da Mulher Negra. O  Portal Geledés é um programa da instituição, que teve sua primeira versão em 1996 e voltou em 2009.  

Aos 72 anos, Sueli é considerada por muitos a maior filósofa brasileira, além de uma das mais relevantes pensadoras do feminismo negro no Brasil. 

Sueli também é autora de diversas obras importantes em todo o mundo, que trouxeram conquistas notórias, como: 

O Prêmio de Direitos Humanos da República Francesa e a nomeção no Mulheres Notáveis da Brazil Foundation. Neste ano, Carneiro será homenageada no Prêmio Jabuti 2022 como Personalidade Literária. 

Durante as mais de duas horas de duração, o novo episódio de Mano a Mano é uma aula sobre antirracismo, luta coletiva e organização política.  

O papo passa por risadas, lembranças da infância, partilhas e diversas reflexões sobre temas que tangenciam o racismo, como as cotas, o debate do colorismo e a branquitude neoliberal. 

Resumindo as sete décadas de vivências como mulher negra, a intelectual é direta quanto a realidade enfrentada por pessoas não-brancas no país: 

“A abolição foi uma mensagem: vocês estão livres para morrer na sarjeta desse país”, diz ela, em referência ao 13 de maio de 1888, Abolição da Escravatura no Brasil. 

Questionando a disparidade entre brancos e negros ao analisarmos os dados de mortos pela Covid-19, Sueli provoca: 

"Por que a gente morre de mortes preveníveis e evitáveis o tempo todo? Por que a gente é mantido na indigência?”.

A participação da filósofa contou inclusive com puxões de orelha ao ícone Mano Brown. “E você faça sua parte!”, bradou Sueli para um dos inúmeros homens negros que sua luta inspirou. 

O episódio, considerado um dos mais inesquecíveis do podcast, é um exemplo que não deve ser esquecido: todos nós precisamos de letramento racial, sempre. Que possamos escutar quem lutou antes de nós.