“Ideologia de gênero”: publicação explica termos que causam confusão

Por Kelly Ribeiro

Fotos: Pexels, Unsplash e reprodução

Politicamente correto”, “ideologia de gênero”, “marxismo cultural”, “racismo reverso''. O debate político brasileiro atual tem várias expressões e verbetes por vezes empregados de forma equivocada.

Para resgatar a fabricação desses termos e ampliar o real significado deles, o Observatório de Sexualidade e Política (SPW, na sigla em inglês) elaborou o

Pequeno Dicionário

A iniciativa foi desenvolvida em parceria com o Programa Interdisciplinar de Pós-graduação em Linguística Aplicada (PIPGLA) da UFRJ, com diversos profissionais envolvidos.

O “Pequeno Dicionário” explica em linguagem simples, como e porque essas expressões foram criadas e como são usadas politicamente - em geral, como categorias de acusação.

Como exemplo, os organizadores lembram o debate na TV aberta para prefeito da capital fluminense (RJ), em outubro de 2020.

O candidato à reeleição Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, acusou Eduardo Paes de propagar “ideologia de gênero”. Ao invés de responder, Paes mudou de assunto.

Segundo o dicionário, a expressão foi inventada por um padre belga em 1997, mas posições contrárias ao entendimento de gênero como uma questão cultural (e não biológica) são muito antigas.

Na introdução do material, os organizadores destacam a associação recorrente entre “ideologia de gênero”, comunismo, marxismo cultural, patriotismo e vários outros termos como parte de um projeto.

Uma estratégia compartilhada por neoconservadores religiosos e forças da nova direita em vários lugares do mundo, especialmente na América Latina e Europa.

A produção do dicionário foi inspirada por um dossiê acadêmico francês, publicado pela Revista Nouvelle sobre os novos lugares comuns da direita. Mas opta por usar uma linguagem mais concisa. 

O Dicionário tem duas versões em e-book gratuitas: uma destinada a pessoas que cursam o Ensino Médio e outra ao público geral. O material segue em construção, pois novos verbetes serão adicionados.

Vídeos no Youtube e nas redes sociais também apresentam um breve histórico das expressões. A ideia é chegar a um público amplo, desde estudantes, professores, a influenciadores digitais e políticos.