Em apenas 8 minutos, TikTok afeta autoestima das mulheres

Por Daniela Valenga

Um estudo da Universidade Charles Sturt (Austrália) revelou os efeitos prejudiciais de conteúdos do TikTok na saúde mental, na imagem corporal e nos comportamentos alimentares de mulheres.

A pesquisa analisou uma amostra de 273 mulheres, com idades entre 18 e 28 anos, para compreender como conteúdos de alimentação rígida e da cultura fitness afetam a autoestima de quem usa a plataforma.

Para a análise, uma parte do grupo de amostra assistiu entre 7 e 8 minutos de conteúdo considerado neutro, como cenas da natureza, vídeos de culinária e clipes de comédia.

O restante do grupo assistiu entre 7 e 8 minutos de mulheres jovens restringindo comida, fazendo piadas sobre comportamento alimentar, passando fome e compartilhando dicas de perda de peso.

A doutora em psicologia Rachel Hogg, que conduziu o estudo, afirmou que apesar do curto período do experimento, os resultados foram evidentes e alarmantes.

“Assistir apenas sete a oito minutos de conteúdo pró-anorexia no TikTok aumentou significativamente a insatisfação corporal e a internalização dos padrões de beleza da sociedade.” - Rachel Hogg.

O foco no TikToK se deu por como o algoritmo da plataforma funciona, ao registrar dados individuais e propor vídeos para chamar a atenção do usuário na página personalizada “For You” (Para você).

Um usuário, por exemplo, pode pesquisar por positividade corporal ou conteúdo antianorexia e acabar exposto a conteúdo pró-anorexia devido às configurações do algoritmo.

“Isso significa que alguém que simplesmente assiste a um vídeo sobre preparação de refeições ou exercícios na academia, pode ver conteúdo pró-anorexia em sua página 'For You'”. - Rachel Hogg.

Por exemplo, 64% das participantes relataram ter sido expostas a conteúdo sobre regras alimentares rígidas na página “For You” antes de participar do estudo.

Hogg reitera a necessidade urgente de controles e regulamentações no TikTok para evitar a circulação de conteúdos prejudiciais e pró-anorexia.

O efeito prejudicial à autoestima não ocorre só no TikTok. Um estudo do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab/UFRJ) também encontrou conteúdos como esses no Instagram e Facebook.

Em 28 dias, o estudo identificou 1.565 anúncios impulsionados, ou seja, pagos, considerados tóxicos ou misóginos. 80% deles tinham como alvo o corpo da mulher.

Os anúncios que miravam o corpo da mulher estavam relacionados a estética e beleza (51%) e emagrecimento (38%). 98% deles promoviam risco à saúde pública ou individual.

“Percebemos na pesquisa o quanto resgatam isso que achávamos que estava ficando para trás, que é atribuir beleza e padrão estético ao bem-estar da mulher.” - Luciane Leopoldo Belin, uma das autoras da pesquisa.

Descubra como anúncios na Meta afetam saúde das mulheres e incentivam homens a serem misóginos.

Imagens: STF e reprodução