Conheça Anastácia,  estampa da camiseta de Linn da Quebrada

Texto por Iraci Falavina Fotos: Linn da Quebrada, Research Gate, Unsplash, Pixabay, Politize, Yhuri Cruz

A cantora Linn da Quebrada estreou no BBB22 usando uma camiseta com a imagem da escravizada Anastácia sem a máscara de ferro,  símbolo do seu flagelo.

Entenda melhor o que a ação significa

A imagem de Anastácia, além de ser reproduzida fortemente no campo da História, por demonstrar castigos aplicados aos escravizados, é também carregada de misticismo.

Anastácia é cultuada como santa na Irmandade do Rosário, popular entre os escravizados. Na década de 1970, principalmente, sua figura ganhou força como um “amuleto” da luta contra a escravidão.

Em 1968, em uma exposição da Igreja do Rosário do RJ celebrando os 80 anos da abolição, a pintura de Anastácia usando uma máscara de ferro chamou atenção da comunidade e se tornou altamente popular.

A obra famosa foi pintada por Étienne Arago em 1839, e seu nome original é “Castigo de Escravo”. Nela, Anastácia usa uma Máscara de Flandres, instrumento de tortura que impedia fala ou alimentação.

A máscara que Anastácia usava era feita com uma chapa de aço laminada e possuía filetes de metal que eram trancados com um cadeado atrás da cabeça.

Segundo a doutora em Antropologia Social Mônica Dias de Souza, a história mais comum de Anastácia é a de que ela resistiu aos apelos sexuais de seu senhor, que a estuprou e a amordaçou como castigo.

“Anastácia guerreira encaixava-se muito bem no contexto daquela época. Buscavam-se heróis, os guerreiros, os que, mais que superado a dor do cativeiro, haviam lutado pelo seu término”, disse Mônica.

Além da história original, outras versões e crenças foram atribuídas, e Anastácia tornou-se um “símbolo sagrado”, passando a agregar diversos devotos que celebravam missas em sua homenagem.

Ainda na década de 1970, o Movimento Negro Unificado (MNU) contribuiu para que Anastácia ganhasse sentidos que fossem além da luta antiescravocrata.

No contexto da Ditadura Militar brasileira, ela se tornou um símbolo de liberdade. “Assim como a máscara de flandres a impedia de falar, também a ditadura brasileira fazia calar”, disse Mônica Dias.

Em meio a um período de perseguição aos grupos minoritários e falha no cumprimento dos direitos humanos, a lenda da mulher escravizada tornou-se um refúgio de esperança para os atormentados.

Com tantas orações, missas, velas, flores e oferendas, o culto de Anastácia se difundiu pelo país de forma a se tornar praticamente impossível rastrear sua origem exata.

Linn da Quebrada, ao usar uma camiseta em que Anastácia não está com a máscara, difunde a simbologia da luta pela liberdade contra os opressores do povo negro.

A cantora e atriz negra e travesti iniciou sua carreira musical em 2016, com o lançamento de sua primeira música, “Enviadescer”.

FONTE: SOUZA, Monica Dias de. Escrava Anastácia: construção de um símbolo e a re-construção da memória e identidade dos membros da Irmandade do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. 2001.