A educadora social Aline Brito pegou os filhos na creche e começou a chover. Ela pediu um carro por aplicativo e, durante o trajeto, o motorista perguntou sobre o pai das crianças.
Aline é mãe com outra mãe: a confeiteira Alessandra Santos. No perfil "Maternidade Sapatão", ela conta que se sentiu incomodada, mas respondeu com educação: “Moço, os meus filhos não têm pai”.
Insistente, o motorista quis saber se as crianças chegaram a conhecer o pai. Ela respirou fundo e repetiu que seus filhos não têm pai, eles foram gerados por meio de fertilização in vitro.
A fertilização in vitro é um método de reprodução assistida que consiste em fertilizar os óvulos com os espermatozoides em ambiente ambulatorial e controlado.
Em todo o mundo, dez milhões de bebês foram gerados por meio da técnica desde que ela foi criada, em 1978, há 45 anos.
Dentro de uma visão heteronormativa, apenas os relacionamentos heterossexuais, ou seja, entre homens e mulheres, são considerados corretos ou normais.
Também se espera que essas pessoas sejam cisgêneras, ou seja, correspondam ao gênero que lhes foi atribuído no nascimento, diferente do que ocorre com pessoas transgênero.
A cisheteronorma surge desse conjunto de ideias que favorece homens brancos, heterossexuais e cisgêneros, que são vistos como “sujeitos universais", como se fossem as únicas pessoas "normais".
Contudo, os arranjos familiares podem ser muito diversos e igualmente legítimos. Famílias com duas mães são exemplo.
A jornalista Daniela Arrais, fundadora do Coletivo Dupla Maternidade, fez um apelo para que as pessoas deixem de tratar famílias diferentes do modelo tradicional como se fossem incompletas.
“Aqui temos uma configuração familiar diferente, não se trata de abandono parental”, escreveu Daniela, que tem um filho com a fisioterapeuta Laura Della Negra.
Via Instagram, a jornalista também problematizou a noção heteronormativa de que mães precisam fazer o papel de pais, tornando-se “pães” para oferecer completude aos filhos.
“Meu filho não tem pai, e a nossa família está completa.”– Daniela Arrais