Morreu, no domingo (29), a antropóloga, cientista social e militante dos direitos das pessoas com deficiência, Adriana Dias.
Dias é uma das maiores referências em pesquisa sobre o neonazismo no Brasil. Ela identificou 530 células neonazistas espalhadas pelo país, até 2022, a maioria delas em São Paulo e nos estados do Sul.
“Eu falava que a gente precisava discutir o neonazismo, olhavam para minha cara e diziam que eu estava ficando louca, hoje, querem saber qual a solução. Eu só tenho dados, não tenho solução”, disse em entrevista ao Catarinas.
Em 2021, ela encontrou uma carta assinada por Jair Bolsonaro em sites neonazistas, publicada em 2004. "Vocês são a razão da existência do meu mandato”, dizia um trecho.
“As pessoas estão perdendo o medo da impunidade, estão saindo com suástica no braço, estão fazendo manifestação, dizem ‘eu sou mesmo, tenho direito de ser’”.
Para a pesquisadora, a população brasileira precisa entender a gravidade da ditadura que ocorreu no país para ter a capacidade de compreender a dimensão do nazismo.
“Não tivemos vergonha suficiente da nossa história como a Alemanha tem da dela. São momentos que precisam ser repassados historicamente, as pessoas fazem de conta que essas histórias não aconteceram”.
Dias tinha osteogênese imperfeita, conhecida como “doença dos ossos de vidro”. Essa condição fez parte da sua trajetória e luta.
Ela fundou e coordenou o Comitê Deficiência e Acessibilidade na Associação Brasileira de Antropologia e na Associação Nacional de Pesquisadores em Ciências Sociais.
Dias também era uma militante pelo direito ao aborto. Em 2018, durante a audiência pública da #ADPF442 no STF, ela, mulher com deficiência, argumentou contra a ideia do aborto como eugenia.
“Quando usam nossas vidas para justificar que autorizar o aborto pode implicar em eugenia, fazem uma usurpação cruel da nossa experiência. Eugenia é o Estado gerir nossa vida, nos esterilizar.”
“Nós mulheres com deficiência também fazemos aborto. Também esperamos por políticas de planejamento familiar adequadas às nossas realidades corporais diversas.”
“Não é eugenia nos garantir, e garantir a qualquer mulher, o direito de decidir por qualquer razão que seja.”
Os estudos, as lutas e as contribuições de Adriana Dias jamais serão esquecidos. Que honremos o seu legado!
“Está na hora das pessoas decidirem claramente de que lado vão querer ficar da história, porque a história já comprovou que os nazistas não passarão, então tá na hora de escolherem se vão querer ficar do lado dos que já ultrapassaram historicamente ou do lado da humanidade”.
Leia a entrevista completa queo Catarinas fez com Adriana Dias em 2020.