as bases do pensamento transfeminista para tomar nota

Transfeminismo de cabeceira

Por Jess Carvalho

Fotos: Unsplash e reprodução

Lembra daquela frase icônica da Simone de Beauvoir?

“Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.”

É o que o transfeminismo vem nos dizendo há muito tempo…

Não. Transfeminismo não é coisa nova.

A pesquisadora estadunidense Sandy Stone, que foi orientanda de ninguém menos que Donna Haraway, escreveu “O Império contra-ataca”.

1987

A publicação fazia duras críticas à chamada segunda onda do feminismo, desconstruindo a ideia de essencialização e biologização do corpo considerado “feminino”.

Ela foi uma das precursoras do transfeminismo: um movimento de emancipação organizado por gente cansada de se ver à margem do pensamento feminista cisnormativo da época.

“No apagamento histórico das transexuais podemos encontrar uma história disruptiva para os discursos aceitos sobre gênero” Sandy Stone

1997

O primeiro registro escrito da palavra “transfeminismo” veio uma década depois, das mãos de Patrick Califia.

A eles, nas décadas seguintes, somaram-se as vozes de Sylvia Rivera, Kate Bornstein, Paul B. Preciado, Julia Serano e Emi Koyama, com seu “Manifesto Transfeminista”.

“O transfeminismo não é sobre se apoderar de instituições feministas existentes. Ao contrário, é sobre ampliar e avançar o feminismo como um todo” Emi Koyama

2001

No Brasil, as pesquisadoras Hailey Kaas e Aline de Freitas podem ser consideradas precursoras na estruturação do pensamento transfeminista.

“O transfeminismo é a exigência ao direito universal pela autodeterminação, pela autodefinição, pela autoidentidade, pela livre orientação sexual e pela livre expressão de gênero” Aline de Freitas

2005

Hoje, elas encontram ressonância em autoras como Helena Vieira, Sophia Riviera e Letícia Nascimento, que assina o famoso livro “Transfeminismo”, da coleção Feminismos Plurais.

2021

“Nem as cisgêneras, nem as transgêneras são identidades naturais, por isso, é importante romper com a categoria ‘mulher’ no singular, para pensarmos mulheridades e/ou feminilidades” Letícia Nascimento

O transfeminismo discute estereótipos de feminilidade, pluralidade de identidades de gênero, direitos reprodutivos e despatologização das identidades trans.

De maneira prática:

O movimento reivindica a desconstrução da cisheteronorma, ou seja, o conjunto de noções discriminatórias que hierarquiza pessoas de acordo com a correspondência sexo-gênero-desejo

“Não precisamos de autorizações ou concessões para sermos mulheres ou homens. Não precisamos de aprovações em assembleias para sermos feministas” Aline de Freitas