Rita Lee, a padroeira da liberdade

Por Jess Carvalho

Abaixo as monarquias! A própria Rita Lee disse, em entrevista à Rolling Stone, que achava o título de rainha do rock meio cafona e preferia ser chamada de padroeira da liberdade.

Mas sua contribuição para o rock’n roll brasileiro é inegável: se tem uma coisa que Rita Lee fez, foi abrir alas para que as mulheres sentissem que podem, sim, liderar bandas de rock.

“Eu era a única menina roqueira no meio de um clube só de bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e meus ovários — e me senti uma igual, gostassem eles ou não.” – “Rita Lee: Uma Autobiografia”, 2016.

Rita Lee Jones de Carvalho nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947. Entre suas inspirações estavam Beatles, Elvis Presley, Carmen Miranda, João Gilberto e Maysa. 

Em 1963, Rita Lee criou seu primeiro grupo musical: o trio Teenage Singers. Depois de muitas mudanças, elas se juntaram ao Wooden Faces, formando o Six Sided Rockers.

Mais tarde, três integrantes do grupo saíram, restando Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, que passaram a se chamar Os Mutantes. Depois de seis discos gravados, Rita foi expulsa da banda.

Mas ela não abaixou a cabeça: ao lado de Lúcia Turnbull, Sérgio Carlini e Lee Marcucci, deu vida à banda Tutti Frutti, com a qual gravou singles como Menino Bonito, Agora Só Falta Você e Ovelha Negra.

Ainda na década de 1970, Rita Lee conheceu Roberto de Carvalho. Com a entrada de Roberto na banda Tutti Frutti e o lançamento do terceiro disco, Babilônia, o grupo se desfez. 

Rita Lee e Roberto seguiram como dupla na indústria musical. Em 2020, Roberto contou que o medo de “flopar” a carreira da cantora foi real, mas no fim deu tudo certo – tanto que eles se casaram.

"No fim, conseguimos nos livrar de estereótipos que já vinham projetados nela, construímos uma obra musical original, longe de ser algum repeteco.” Roberto de Carvalho em entrevista ao UOL, 2020

Doce Vampiro, Papai Me Empresta o Carro e Chega Mais foram alguns dos sucessos lançados no primeiro disco do casal, consolidando Rita Lee como uma das maiores cantoras do Brasil. 

Já o segundo disco da dupla bateu recordes internacionais com Lança Perfume, ficando em 7º lugar na parada da Billboard. Juntos, eles também lançaram hits como Cor de Rosa Choque e Desculpe o Auê.

A carreira solo veio na década de 90 – e Rita também fez dela um sucesso. Em 2001, a cantora lançou a famosa música Erva Venenosa, e ganhou o prêmio de melhor disco de rock no Grammy Latino de 2001. 

Ao todo, foram 40 discos lançados até a aposentadoria, em 2012. Rita Lee viveu os últimos anos ao lado de Roberto de Carvalho, em um sítio, sendo visitada pelos três filhos e os dois netos do casal.

"Os deuses me ofereceram uma vida inesquecível e generosa. A experiência que tive neste planeta foi um aprendizado espiritual precioso.” Rita Lee em entrevista ao UOL, 2020.

Embora nunca tenha se declarado feminista, a artista defendia pautas caras ao movimento, como a igualdade de gênero e a liberdade sexual feminina, tema no qual foi pioneira na música brasileira.

No dia 9 de maio, aos 75 anos, a artista faleceu em decorrência de complicações de um câncer de pulmão. Seu velório ocorreu no planetário do Ibirapuera, como ela desejava.

Celebramos suas críticas bem formuladas por meio do humor, uma das mais sagazes armas contra a opressão do patriarcado. E a agradecemos por seu legado rebelde e emancipatório.

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