As ginastas Rebeca Andrade e Simone Biles são destaques nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Apesar de concorrentes em diferentes categorias, não há uma rivalidade tóxica entre elas.
Em diferentes oportunidades, antes e durante as Olimpíadas, Rebeca e Simone elogiaram e apoiaram uma à outra.
No Mundial de Ginástica de 2018, Rebeca apresentou lesões nos joelhos e Simone a incentivou a não desistir e seguir em frente.
“Fiquei superfeliz. Falei: 'Meu Deus, a melhor do mundo falando para eu não desistir'. Agora que não vou desistir mesmo”, contou Rebeca ao Jornal Nacional naquele ano.
Em 2023, as duas participaram de um momento histórico. Pela primeira vez, o pódio do individual geral do Mundial de Ginástica foi de três mulheres negras: Simone, Rebeca e a estadunidense Shilese Jones.
“Aquele pódio teve a magia das mulheres negras. Desde sempre, isso é algo que você só sonharia em testemunhar e muitas meninas precisavam ver”, comemorou Simone no documentário sobre sua jornada.
Nas Olimpíadas de 2024, Simone conquistou 3 medalhas de ouro e uma de prata, e Rebeca ganhou uma medalha de bronze, duas de prata e uma de ouro.
Mais uma vez as duas integraram um pódio histórico. Três mulheres negras fizeram as melhores apresentações no solo das Olimpíadas 2024: Rebeca, Simone e a atleta estadunidense Jordan Chiles.
Durante a entrega da medalha de ouro para Rebeca, Simone e Jordan reverenciaram a brasileira, em sinal de respeito. Depois, as três deram as mãos.
“Amo Rebeca. Ela é uma pessoa maravilhosa e uma ginasta melhor ainda. Foi um pódio todo com mulheres pretas, então foi superemocionante para nós”, disse Simone.
“Poder repetir isso (pódio com atletas negras) numa Olimpíada, com milhões de pessoas nos assistindo, é mostrar a potência que somos. Que, apesar das dificuldades, podemos sim fazer acontecer”, falou Rebeca.
A relação entre Rebeca e Simone nos faz pensar sobre a Dororidade, conceito cunhado pela professora e escritora Vilma Piedade, no livro do mesmo nome, lançado em 2017.
Ao não se sentir incluída totalmente no termo sororidade, Vilma constrói um novo conceito a partir de um lugar de pertencimento, que também é o lugar de suas ancestrais e marcado pela ausência histórica.
A Dororidade é a união e aliança entre mulheres negras, baseada na empatia gerada pelo reconhecimento das vivências e dores comuns.
Caroline Amanda, Mestra em Filosofia criadora da Yoni das Pretas, ao refletir sobre o pódio de solo das Olimpíadas, escreveu que para as mulheres negras, a irmandade é poderosa e essencial.
“Nossa conexão transcende não apenas fronteiras geográficas, mas também as fronteiras impostas pelo racismo, sexismo e outras formas de opressão”, publicou Caroline.
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