Precisamos falar de aborto e racismo

Por Jess Carvalho

Você sabia que as principais vítimas da criminalização do aborto são as mulheres negras?

“São enormes as iniquidades raciais, sexuais, sociais e econômicas às quais as mulheres negras são historicamente submetidas”, fala Mariane Marçal, assistente de coordenação da ONG Criola.

Segundo Mariane Marçal, da ONG Criola, essas mulheres têm a vida atravessada pela fome e insegurança alimentar, falta de saneamento, trabalho e renda, acesso precário à educação e também à saúde. 

Por essas questões, a probabilidade de uma mulher negra abortar é maior do que a de uma mulher branca. De acordo com uma pesquisa do Anis - Instituto de Bioética, no Brasil, a chance é 46% maior.

“A probabilidade é que, aos 40 anos, 1 em cada 5 mulheres negras e 1 em cada 7 mulheres brancas terá feito um aborto.”

- Anis - Instituto de Bioética.

As mulheres negras também estão mais expostas ao aborto clandestino e inseguro.

“Mulheres negras correspondem a 47,9% das internações e 45,2% dos óbitos por aborto, contra 24% e 17% das mulheres brancas, respectivamente.”

-  Mariane Marçal, Criola.

Com a pandemia, a mortalidade materna só se agravou. “Em 2021, as mortes maternas entre mulheres negras chegaram a ser 77% superiores às das brancas”, afirma a assistente de coordenação da Criola.

A desigualdade também se estende à criminalização. Mesmo sem antecedentes criminais, são as mulheres negras que mais sofrem com as denúncias.

“De acordo com a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, em pesquisa realizada sobre o perfil das mulheres denunciadas, 60% são negras e 65% têm filhos.”

- Mariane Marçal, Criola.

Diante desse contexto, descriminalizar o aborto é também combater o racismo. 

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