Por que a violência contra meninas e mulheres cresceu em 2022?

Por Daniela Valenga

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023 traz um dado preocupante: os feminicídios cresceram 6,1% em 2022. Foram 1.437 mulheres mortas simplesmente por serem mulheres.

Além disso, outros tipos de violência também aumentaram. A violência doméstica cresceu 2,9%, as ameaças aumentaram 7,2%, o assédio sexual cresceu 49,7% e a importunação sexual 37%.

O levantamento também identificou o maior número de registros de estupro e estupro de vulnerável da história, com 74.930 vítimas, um aumento de 8,2% em relação a 2021.

76% das vítimas eram incapazes de consentir por serem menos de 14 anos ou por motivos relacionados a deficiências ou enfermidades.

O relatório do Fórum de Segurança Pública aponta hipóteses sobre o aumento da violência contra meninas e mulheres no Brasil em 2022.

O documento cita como uma das possíveis causas o desfinanciamento das políticas de proteção à mulher pela gestão de Jair Bolsonaro, que teve o menor orçamento em uma década para a área.

Também, o impacto da pandemia de Covid-19 nos serviços de acolhimento e proteção às mulheres, que provocou restrições nos horários de funcionamento, redução de equipe ou foram interrompidos.

A pandemia também é relacionada com o aumento de estupros de vulneráveis por ter provocado o fechamento de escolas e isolamento social. Casos do período podem ter vindo à tona somente em 2022.

O cenário também é relacionado com a ascensão de movimentos ultraconservadores, que atacam sucessivamente os debates sobre igualdade de gênero.

Outro motivo é o efeito do chamado “backlash”: a reação do sistema machista ao avanço da igualdade de gênero. Segundo as autoras, mesmo com desafios, a sociedade tem evoluído nesse ponto.

Por isso, o “backlash” é interpretado nos estudos feministas como uma reação ao rompimento de papéis sociais histórica e culturalmente atribuídos às mulheres. 

Ou seja, a violência é utilizada como forma de restabelecer a superioridade masculina.

“É comum que mulheres que passam a trabalhar fora, depois de anos se dedicando ao trabalho doméstico, comecem a sofrer violência por parte de seus maridos ou companheiros”, exemplifica o documento.

O crescimento no número de casos também pode indicar um aumento das notificações, em função de as vítimas estarem mais informadas e incentivadas a denunciar.

O relatório traz outros dados preocupantes, como o fato de que ainda há obstáculos no acesso à justiça das mulheres que buscam o poder judiciário.

Em 2022, apenas 85% das Medidas Protetivas de Urgência solicitadas foram atendidas. As medidas são um instrumento importante para salvaguardar a vida de mulheres vítimas de violência.

“Temos aí um quadro que, no limite, coloca em questionamento a manifestação da própria vítima e aumenta a vulnerabilidade das mulheres que buscam apoio do Estado Brasileiro”, diz o documento.

O Anuário de Segurança Pública 2023 está disponível de forma gratuita no site do Fórum.

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