O que o pensamento feminista negro nos diz sobre paternidade

Por Kelly Ribeiro

O tema paternidade tem pautado o noticiário recentemente devido a decisões de artistas em relação ao assunto.

As discussões giram em torno de questões como o término de casamento durante o puerpério da companheira, guarda compartilhada, não colocar o sobrenome nos filhos ou escolha por não os ter.

Os casos reforçam o que os dados nacionais já revelam: no Brasil de 11 milhões de mães solo, a paternidade é uma escolha e a divisão do cuidado é totalmente desigual.

Também mostram que é preciso pensar o "masculino" e debater a paternidade através de recortes como racismo, machismo, patriarcado e desigualdade social, como propõem as intelectuais negras.

bell hooks define patriarcado como “o poder que os homens usam para dominar as mulheres” e que se trata de “um privilégio de todos os homens na sociedade sem olhar a classe ou a raça”.

Por outro lado, esse poder se volta contra eles: "Se o patriarcado fosse verdadeiramente recompensador para os homens, a violência e o vício na vida familiar, tão onipresentes, não existiriam” . -  hooks

Em reflexão sobre o caso de um ator negro que abandonou a companheira no puerpério, a pesquisadora Winnie Bueno pontuou que o racismo, o machismo e o patriarcado mobilizam a masculinidade hegemônica.

Masculinidade essa também buscada por homens negros. “Quando um homem negro entende o debate das masculinidades negras, ele consegue entender a importância de exercer a sua presença”.  - Bueno

No Brasil, o racismo estrutural: “organiza a nossa democracia e o caminho de êxito de algumas políticas públicas, criando iniquidades nas mais diversas áreas", como afirma Jurema Werneck.

Dessa forma, "determina oportunidades desiguais e injustas para os homens negros e isso, de certa forma, influencia na paternidade negra (...)"

Portanto, o paternar é influenciado pelas complexidades que englobam uma sociedade: as relações entre raça, gênero, classe, etnia, identidade, etc.

"Homens e mulheres ainda têm que desenvolver empatia suficiente pelas experiências uns dos outros. Uma análise feminista negra baseada na interseccionalidade pode apresentar essas conexões."

A frase de Patrícia Hill Collins exemplifica como o feminismo negro busca entender os padrões impostos conforme o gênero e aponta caminhos para a equidade. 

Leva em consideração os contextos que moldam as identidades (especialmente de pessoas negras) diante de uma sociedade majoritariamente branca e patriarcal, mas sem “passar pano” para negligências.

Como bem lembra Hill Collins: “A liberdade de uma pessoa não pode ser baseada na subordinação de outra”.

Leia mais sobre feminismo negro no Portal