O que o caso Prior mostra sobre a Cultura do Estupro?
Por Daniela Valenga
Felipe Prior, conhecido por participar do reality show Big Brother Brasil (BBB) em 2020, foi condenado pelo crime de estupro a 6 anos em regime semiaberto.
O crime julgado é de 2014. Após uma festa, Prior ofereceu carona à vítima, chamada de Themis para permanecer anônima, e a uma amiga, que foi deixada primeiro em casa.
“Eu falei 'Felipe, eu não quero, não quero', e ele continuou insistindo, continuou tirando a minha roupa e começou a penetração”, disse a vítima ao Fantástico.
Conforme relata, o estupro parou quando começou a sangrar e sujou o carro. Na época, não entendia o que tinha acontecido. Foi em 2017, com o movimento Me Too, que entendeu que tinha sido estuprada.
“Foi quando realmente caiu a ficha de que não era minha culpa. Que não era minha responsabilidade. Que eu não tinha feito nada de errado e que ele tinha me estuprado”.
Em 2020, quando viu Prior na televisão como participante do BBB, a vítima teve um ataque de pânico ao voltar para 2014. Decidiu denunciar após ler relatos de outras mulheres nas redes sociais.
As advogadas de defesa da vítima, Maira Pinheiro e Juliana Valente, também atuam em outros três casos que Prior é investigado por estupro, ocorridos em 2015, 2016 e 2018.
O caso reacendeu os debates sobre a cultura do estupro existente na sociedade brasileira. Mesmo com a condenação, há pessoas que defendem Prior e dizem que as vítimas só querem fama.
“O estuprador tem 6 milhões de seguidores e milhares de comentários de apoio. Show de machismo e misoginia (por vezes vindo de mulheres) duvidando das vítimas”.- Tainá de Paula, arquiteta.
“O caso Prior escancara como funciona a cultura do estupro: o homem é condenado pela violência sexual [...] e em suas redes sociais ainda há quem o apoie, como se ele tivesse sido a vítima”.- Talíria Petrone, deputada federal.
A expressão “cultura do estupro” surgiu nos anos 1970, cunhada por feministas, e indica que a misoginia da sociedade naturaliza a violência contra a mulher por meio de normas, valores e práticas.
Fazem parte da cultura do estupro comentários que culpabilizam a mulher, como “ela provocou”, “ela estava usando saia curta” ou “por que ela entrou no carro?”.
Também, comentários que argumentam que o homem tem instintos naturais que não conseguem controlar, o que justificaria a violência.
“Manifestações de solidariedade ao Felipe Prior [...] revela o quanto de nossa sociedade normaliza a violência contra os nossos corpos”.- Teca Nelma, vereadora em Maceió (AL).
“Sempre vai ser uma ferida aberta. Nunca vai passar. O que eu posso fazer com ela hoje é mostrar para o mundo que nenhuma mulher merece ter uma ferida dessas”.- Themis.