Meninos vestem azul, meninas vestem rosa: o estereótipo de gênero no "chá de revelação"

Por Daniela Valenga

Nos últimos anos, os chás de revelação se popularizaram no Brasil. Usando as cores rosa para meninas e azul para meninos, o evento quer contar qual será o gênero do bebê, segundo a genitália.

O primeiro chá de revelação conhecido aconteceu em 2008, nos Estados Unidos. A blogueira Jenna Karvunidis estava grávida da primeira filha e decidiu organizar uma festa para "revelar o sexo do bebê".

A notícia que seria uma menina foi dada depois que ela cortou o bolo e a fatia veio pintada de rosa. Porém, Karvunidis diz se arrepender da tendência que criou.

“Há uma obsessão por gênero que torna tudo limitador em muitas formas. Você não quer que o que você tem entre as suas pernas guie seu caminho pela vida.” - Jenna Karvunidis.

Recentemente, chás de revelação viralizaram pelas reações problemáticas dos pais. Em um vídeo, uma mãe reclama quando a fumaça rosa começa a sair, porque queria um menino.

Em outro vídeo, após um pai descobrir que terá um filho, deixa a mãe sozinha e vai comemorar somente com amigos homens.

Outro caso que repercutiu foi quando pais usaram uma substância para tingir uma cachoeira de azul para o chá de revelação.

“A cachoeira azul de chá de revelação é parte do fanatismo de Damares entranhando-se na natureza”, escreveu a antropóloga Débora Diniz na época.

O comentário é uma referência à fala da ex-ministra e atual senadora Damares Alves (Republicanos), ao dizer que o governo Bolsonaro era “uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa.”

A pesquisadora Paula Rios de Freitas realiza um estudo de análise sobre chás de revelação e diz que eles reforçam a hegemonia do homem-branco-cisgênero-heterossexual.

“Sonhar ‘em ter um neto homem!’ é colocar em prática a naturalização de determinadas expectativas sociais que desconsideram o protagonismo infantil na medida em que a criança ideal é forjada no imaginário adulto”, exemplifica Freitas.

Para a comunicadora Lana de Holanda, o chá de revelação é “o jeito ‘fofo’ de corroborar tudo que Damares e os conservadores pregam: ‘menina veste rosa e menino veste azul’ e todas as violências que vem junto com isso”.

A ativista Alice Priestly também aponta a “transfobia em forma de evento social” do chá revelação.

“Só serve para reforçar estereótipos de gênero e impor papéis sociais sobre uma criança que sequer nasceu.” - Alice Priestly.

Acompanhe mais conteúdos como este no Portal.