O aborto continua a ser um evento comum na vida das mulheres
Por Daniela Valenga
O que diz a Pesquisa Nacional do Aborto
As mulheres que abortam no Brasil são de todas as idades do ciclo reprodutivo, religiões, escolaridades, raças, classes sociais, estado civil e regiões do país.
Isso é o que reforça a Pesquisa Nacional do Aborto (PNA) de 2021. Foram ouvidas duas mil mulheres, em 125 municípios, durante novembro de 2021.
Conforme o estudo, uma a cada sete mulheres, com até 40 anos, já fez pelo menos um aborto no Brasil. Na edição anterior, de 2016, o número era de uma mulher a cada cinco.
“Essa mudança está prevista dentro da margem de erro do estudo e é consistente com os números anteriores. Em termos de magnitude geral da população, estamos falando de meio milhão de mulheres por ano”, afirma a pesquisadora Debora Diniz.
A pesquisadora admite, no entanto, que pode haver uma redução no número de abortos, levando em consideração a queda nas taxas de fecundidade e o maior acesso a métodos contraceptivos no país.
A maioria, 52%, abortou quando tinha 19 anos ou menos. Delas, 46% tinham entre 16 e 19 anos e 6%, entre 12 e 14 anos.
“A lei penal empurra meninas e jovens para os perigos da clandestinidade e o trauma de um aborto inseguro, no silêncio e solidão”, destaca a Anis - Instituto de Bioética.
Cerca de 21% das mulheres que já abortaram, realizaram um segundo procedimento, chamado aborto de repetição. Delas, 74% eram negras e 67% tiveram o último aborto entre 20 e 39 anos.
39% delas usaram medicamento para interromper a gestação. A pesquisa não perguntou qual foi usado, mas a PNA indica o possível uso do misoprostol pelo histórico do país.
43% precisaram ser hospitalizadas para finalizar o aborto, ou seja, duas a cada cinco pessoas que realizam aborto.
“Nos últimos onze anos (2010-2021), as evidências mostram que o aborto continua sendo um evento comum na vida das mulheres e um problema de saúde pública de grande escala no Brasil”, conclue o estudo.
A pesquisa foi coordenada pela antropóloga e professora da Universidade de Brasília, Débora Diniz, pelo professor visitante da Columbia University, Marcelo Medeiros, e pelo professor da Universidade Estadual do Piauí, Alberto Madeiro.