Menstruação: onde falta informação, sobra tabu

Por Daniela Valenga

77% das pessoas já sentiram constrangimento em escolas ou lugares públicos por menstruarem.

Esse é o resultado de uma pesquisa promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por meio da plataforma U-Report, em parceria com a Viração Educomunicação.

Quase metade das pessoas que responderam à pesquisa, nunca tiveram aulas, palestras ou rodas de conversa sobre menstruação na escola. 

“Essa falta de informação contribui para o estigma e gera situações de constrangimento. Precisamos desmistificar a menstruação”. - Gabriela Monteiro, Oficial de Participação de Adolescentes do UNICEF no Brasil.

Maria Carmen Aires Gomes, que estuda discursos sobre a pobreza menstrual, destaca um problema importante: por muito tempo, a produção de conhecimento sobre a menstruação foi predominantemente conduzida por pesquisadores homens cis.

Uma pesquisa da Universidade de Oregon (Estados Unidos) expôs como a maioria dos absorventes não tinha a capacidade de absorção informada porque eram testados com uma solução salina.

“Muitas meninas têm vergonha do ciclo porque o absorvente não segura o fluxo, mas a culpa não é do fluxo e sim do absorvente que não foi testado com sangue.” - Maria Carmen Aires Gomes.

Desde 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) considera o acesso à saúde menstrual um direito como uma questão de saúde pública e de direitos humanos, mas o cenário brasileiro ainda está longe do ideal.

19% das participantes da pesquisa da Unicef não têm dinheiro para comprar absorventes e 37% têm dificuldades de acesso a itens de higiene em escolas ou locais públicos.

O estudo também mostra que 6 entre cada 10 participantes já deixaram de ir à escola ou ao trabalho por causa da menstruação e 86% já deixaram de fazer alguma atividade física por conta do tema. 

A Unicef aponta que as necessidades de saúde e higiene menstrual das brasileiras são negligenciadas devido ao acesso limitado à informação, educação, produtos, água e saneamento básico.

“Uma vez que crianças e adolescentes não têm seus direitos à água, saneamento e higiene garantidos, também são violados outros direitos, incluindo menstrual.” - Gabriela Monteiro, Oficial de Participação de Adolescentes do UNICEF no Brasil.

Uma das iniciativas para mudar essa realidade de quebra de direitos é o Programa Dignidade Menstrual, do governo federal.

O programa distribui absorventes para pessoas de baixa renda matriculadas em escolas da rede pública ou em situação de vulnerabilidade.

Desde o início da distribuição, em janeiro de 2024, o Programa Dignidade Menstrual já beneficiou 1.737.061 mulheres, meninas e outras pessoas que menstruam.

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