Homens brancos, machistas e misóginos: o perfil de quem ataca escolas

Por Daniela Valenga

e como a mídia pode desencorajá-los

O ataque a uma creche de Santa Catarina, uma semana após outro atentado ocorrer em uma escola de São Paulo, levantou novamente discussões sobre a cultura de ódio entre jovens.

Uma pesquisa do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indica que pelo menos 23 escolas do Brasil registraram ataques de alunos e ex-alunos desde 2002.

Destes 23 ataques nos últimos 21 anos, 10 ocorreram somente em 2022 e dois em 2023. Ou seja, mais da metade ocorreu nos últimos 15 meses.

O estudo identificou 36 mortes: 24 eram estudantes, 5 professoras, outros 2 profissionais de educação e 5 pessoas que fizeram os ataques.

Em 12 ataques dos 23 ataques foram utilizadas armas de fogo. Em seis desses casos, os atiradores tinham arma em casa. Em quatro, as armas foram compradas. Nos outros, a origem é desconhecida.

Para Telma Vinha, uma das responsáveis pelo estudo, o aumento se relaciona a fatores como o incentivo maior, nos últimos anos, a atos agressivos e a radicalização dos jovens através das plataformas digitais.

A pesquisa aponta que o perfil dos alunos e ex-alunos que promovem ataques é o de homens brancos, machistas e misóginos, com gosto por violência e histórico psiquiátrico.

“Há uma ideia de que a sociedade deve para eles, por não terem êxito. E, como não se sentem ouvidos, as comunidades mórbidas das redes os acolhem”, explica Telma Vinha.

A pesquisadora Lola Aronovich acompanha e denuncia grupos na internet que usam o discurso de ódio como chamariz para que ocorram massacres como esses.

“Eu percebi, pelas ameaças que recebo, que há mais jovens, crianças de 13, 14 anos, que estão sendo recrutadas para esse tipo de violência”, expõe Lola Aronovich.

As pesquisas também apontam que quem promove massacres procura visibilidade e incentivar outras pessoas. Por isso, imagens e mensagens dos autores não devem ser divulgadas.

“Uma grande exposição do agressor gera um processo de ‘santificação’ dele entre seus pares, porque ele passa a ser visto como um grande exemplo”, diz um guia da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca).

Nesse sentido, ganhou destaque pela forma como foi tratado pelas autoridades e mídia o caso do ataque a duas mesquitas na Nova Zelândia em 2019.

50 pessoas foram assassinadas, enquanto o autor transmitia o ataque em uma live no Facebook. Ele também publicou um manifesto de 74 páginas antes do massacre.

“Ele buscou muitas coisas em seu ato de terror, mas uma delas foi a notoriedade. E é por isso que você nunca vai me ouvir mencionar o nome dele”, disse, na época, a primeira-ministra Jacinda Ardern.

O Facebook removeu mais de 1,5 milhão de versões do vídeo do ataque. Outras plataformas, como YouTube e Twitter, também deletaram vídeos. Ao transmitir o julgamento, o rosto do atirador foi borrado.

“A divulgação de imagens ou vídeos dos agressores, como fizeram alguns veículos, pode ter um efeito não desejado [...]. Por isso, em certos países, os veículos evitam dar destaque a essas notícias”, traz o guia do Jeduca.

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