Glória Maria: o legado da primeira jornalista negra da televisão

Por Daniela Valenga

Nesta quinta-feira (2), morreu a jornalista Glória Maria, ícone e referência do jornalismo na televisão brasileira. Ela é considerada a primeira jornalista negra da televisão.

Glória Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. É filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e de Edna Alves Matta, que trabalhava em casa. Sempre estudou em colégios públicos.

Ela conciliou os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel.

“Como nasci em família muito pobre, fui acostumada com uma vida dura e sem frescura. A gente sempre acordava cedo, era o normal. E levei esse modo de vida espartano para a vida de repórter.”

Em 1970, foi levada por uma amiga para ser radioescuta da Globo do Rio. Em 1971, estreou como repórter. Trabalhou no Jornal Hoje, no RJTV e no Bom Dia Rio.

Em 1977, foi a primeira repórter a aparecer ao vivo, em cores, durante o Jornal Nacional.

A partir de 1986, a jornalista integrou a equipe do Fantástico, do qual foi apresentadora de 1998 a 2007. 

Na época em que apresentou o Fantástico, recebeu inúmeras cartas de telespectadores reclamando de sua presença no programa, com ataques racistas.

Foi a primeira brasileira a usar a Lei Afonso Arinos (1951), contra a discriminação racial, após ser barrada em um hotel. A lei, que vigorou até 1989, não considerava o racismo crime, mas sim contravenção.

"Nada blinda preto de racismo, ainda mais a mulher preta. Nós somos mais abandonadas, discriminadas. Você tem que aprender a se blindar da dor. Se você for esperar o blindamento universal, você está perdida."

Durante dois anos de licença, se dedicou a projetos pessoais e trabalhou como voluntária. Em 2009, adotou as filhas Maria e Laura, hoje com 15 e 14 anos, respectivamente.

Em 2010, após dois anos de licença, passou a integrar a equipe do Globo Repórter.

Ficou conhecida pelas matérias especiais e viagens a lugares exóticos. Ela conheceu mais de 100 países e carimbou 15 passaportes.

Se tornou referência e inspiração para milhares de meninas ao redor do Brasil, especialmente para as negras.

Em 2019, Glória foi diagnosticada com câncer de pulmão. O tratamento com imunoterapia teve sucesso.

Depois, ela sofreu metástase no cérebro, que, inicialmente, também foi tratada com êxito por cirurgia. Em 2022, ela iniciou novos tratamentos para tratar a metástase, que não tiveram resultados.

“A vida te ensina, te mostra. As lições que aprendi da minha avó me fizeram conhecer o que vale a pena e o que não vale. Ouvir para mim é a coisa mais importante da vida. Perder tempo não dá.”

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