Como se proteger da criminalização por aborto em atendimento emergencial de saúde

Por Paula Guimarães Diagramação: Daniela Valenga Foto: Agência Brasil

Você sabia que a maior parte das denúncias de aborto provocado, no Brasil, é feita por profissionais de saúde?

Arte: Bealake

Em muitos casos, as mulheres e pessoas com útero são hostilizadas, têm atendimento negligenciado, são algemadas ao leito e presas durante a hospitalização.

Arte: Bealake

As situações de emergência pós-abortamento ocorrem em casos de aborto espontâneo e em situações de aborto inseguro, em que há pouca ou nenhuma informação sobre como realizar o aborto seguro.

Aborto clandestino não é sinônimo de insegurança. Quando há informação e acesso aos comprimidos, o procedimento é até mesmo mais seguro do que o parto, segundo a OMS.

O atendimento humanizado às mulheres que buscam atendimento médico emergencial, após ou durante um aborto, é garantido por lei e Normas Técnicas específicas do Ministério da Saúde.

Foto: Bigstock

A denúncia à polícia por qualquer profissional de saúde, seja médica, enfermeira, psicóloga, entre outros, é considerada prática antiética, inconstitucional e criminosa.

Arte: Bealake

“A prova da prática de um aborto provocado vem desses serviços que deveriam cuidar das mulheres. Isso faz com que elas não busquem atendimento.” 

- Ana Rita Souza Prata, defensora pública de SP 

Foto: Instituto Patrícia Galvão

De acordo com a legislação brasileira, o aborto é considerado crime, com exceção em três casos: gravidez resultante de estupro, risco à vida da mulher e em diagnóstico de anencefalia fetal.

Agora, vamos lá:  como se proteger se você precisar ir a um serviço de saúde após um procedimento de aborto e houver ameaça de denúncia?

Arte: Flávia Fernandes

DIGA À PROFISSIONAL QUE VOCÊ NÃO AUTORIZA A QUEBRA DO SIGILO MÉDICO E QUE SE ELA VIOLAR, PODERÁ SERÁ PROCESSADA:

O Código de Ética, a Constituição Federal e o Código Penal existem para proteger a sua privacidade e intimidade.

 Pela lei, os profissionais de saúde não podem violar o sigilo, e podem ser processados e criminalizados por isso. Se aconteceu com você, qualquer prova coletada é ilícita e não pode ser usada.

NÃO DÊ NENHUM TIPO DE DEPOIMENTO: Se os policiais forem chamados para tomarem depoimento, você pode ficar em silêncio. Mesmo de maneira informal, você não é obrigada a responder.

Arte: Flávia Fernandes

PEÇA POR UMA ADVOGADA: se algum policial for falar com você, contate uma advogada de sua confiança. Dê preferência às advogadas feministas. Se não conhecer nenhuma, procure organizações feministas.

Arte: Bealake

SE FOR CHAMADA A DEPOR, SEMPRE VÁ ACOMPANHADA DE SUA ADVOGADA: Só dê depoimento acompanhada da sua advogada, jamais faça nada sozinha. Isso em qualquer fase do processo.

A prática de quebra de sigilo e negligência no atendimento pode ser denunciada aos conselhos de classe.

Foto: Getty Imagens

A defensoria pública tem papel importante na busca por reparação frente aos danos morais e materiais causados pela situação.

Humilhação, criminalização e negligência no atendimento obstétrico são faces da violência obstétrica, uma violência de gênero, ou ainda, do racismo institucional no caso de mulheres negras.