Por Daniela Valenga
As mudanças climáticas aumentam desigualdades já existentes, como as de classe, gênero e raça. Meninas são duplamente afetadas, por conta dos marcadores de gênero e idade.
Conforme estudo da Plan International, a elevação da pobreza provocada por eventos climáticos extremos aumenta a taxa de casamentos infantis.
Na Etiópia, por exemplo, a Organização das Nações Unidas (ONU) mapeou um aumento de meninas vendidas para casamento em troca de gado para ajudar as famílias a lidar com o impacto das secas prolongadas.
A permanência escolar de crianças e adolescentes, principalmente de meninas, também é afetada pelas mudanças climáticas.
Conforme a Unicef, pelo menos 721 escolas brasileiras estão em áreas de risco hidrológico, ou seja, regiões onde pode haver inundações ou alagamentos.
Períodos de secas e enchentes afetam diretamente o acesso à água. Uma pesquisa no interior do Nordeste identificou que meninas e mulheres são as principais responsáveis pela busca de água em casos de necessidade.
Conforme a ONU, a menor disponibilidade hídrica provocada pela crise climática pode significar uma distância maior a ser percorrida e tempo gasto por milhares de meninas.
Essa não é a única responsabilidade doméstica que recaí sobre as meninas durante desastres climáticos, o que afeta diretamente o desempenho e a progressão escolar, além do direito à infância.
Na crise climática no Rio Grande do Sul em 2024, a ONG PROAME Cedeca identificou que muitas meninas precisaram assumir responsabilidades, como cuidar dos irmãos, e em algumas situações, abandonar a escola para ajudar na reconstrução das casas.
Meninas e mulheres são desproporcionalmente - e injustamente - afetadas pelas mudanças climáticas em função de estruturas de poder e desigualdades de gênero presentes em todos os países do mundo.”
– Renata Koch Alvarenga, ecofeminista.
O impacto das crises climáticas na vida das meninas ocorre em um cenário em que 40 milhões de crianças e adolescentes estão expostos a mais de um risco climático ou ambiental no Brasil.
O dado é do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que classifica o Brasil como um país de alto risco à exposição de crianças e adolescentes a choques climáticos e ambientais.
Conforme a Unicef, crianças e adolescentes brasileiros estão expostos à poluição por pesticida e do ar ambiente, ondas de calor, falta de água, além de enchentes fluviais e costeiras.
São as crianças e adolescentes da atualidade quem mais vão conviver com as mudanças climáticas, que colocam em risco o bem-estar, o desenvolvimento e a sobrevivência das meninas e meninos.
estão expostas a poluição do ar acima do recomendado pela OMS, o que, a longo prazo, pode causar atrasos no desenvolvimento intelectual.