Como a justiça climática e a reprodutiva estão interligadas?

Por Daniela Valenga

guia da esperança

Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), as mudanças climáticas têm efeitos desiguais com base no gênero. Nesse cenário, os conceitos de justiça climática e reprodutiva são essenciais.

Justiça reprodutiva é um conceito criado nos Estados Unidos na National Prochoice Conference for the Black Women’s Caucus, em 1994, que se popularizou em 2003, após a Conferência SisterSong.

A Justiça Reprodutiva considera fatores como

gênero, raça, classe e território

para defender a criação de políticas públicas que eliminem barreiras estruturais que violam direitos reprodutivos.

O termo engloba direitos fundamentais, como acompanhamento pré-natal, acesso a métodos contraceptivos e à higiene íntima, além do direito ao exercício da maternidade e ao aborto legal.

A Justiça Climática é um conceito que reconhece que as mudanças climáticas, intensificadas pelo aquecimento global, afetam a população de maneira desigual.

O termo surgiu na década de 1990, em um documento que denunciava a indústria do petróleo como principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa que causam as mudanças climáticas.

Em 2015, o conceito foi reconhecido no preâmbulo do Acordo de Paris e explicitado formalmente pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O conceito busca promover ações que distribuam de forma equitativa os custos e benefícios das soluções climáticas.

Além disso, defende iniciativas que respeitem os direitos humanos e garantam a dignidade das populações atingidas.

O movimento da justiça climática destaca que entre os grupos mais impactados pela crise climática, estão as meninas e mulheres, especialmente as do Sul Global.

Essas meninas e mulheres, cotidianamente e majoritariamente, não têm acesso à justiça reprodutiva. A crise climática amplifica este cenário de negativas de direitos.

Por exemplo, na tragédia climática no Rio Grande do Sul em maio de 2024, foram registradas barreiras ao acesso do aborto legal e falta de absorventes para distribuição nos abrigos.

Por isso, articular  justiça reprodutiva e climática é essencial para a elaboração de políticas públicas que promovam dignidade, equidade e proteção para todas as pessoas.

Isso pode ocorrer, por exemplo, com a criação de políticas que garantam a distribuição de absorventes, kits de higiene e roupa íntima para pessoas afetadas por desastres climáticos.

Garantir saúde reprodutiva em meio a desastres climáticos também engloba garantir acesso a serviços de saúde, consultas de pré-natal e serviços de aborto legal à população afetada.

Para isso, é necessário que haja capacitação de profissionais de saúde para atuar em crises climáticas, atendendo de forma qualificada às demandas de saúde sexual e reprodutiva.

Esses e mais pontos fazem parte do “Guia da Esperança: práticas para garantir justiça reprodutiva e climática”, lançado pela Associação Portal Catarinas.

O guia e este conteúdo são apoiados por FP2030, Share-Net Colombia, Profamilia e Save the children.