Chiquinha Gonzaga compôs a primeira marcha de carnaval
A compositora e maestrina carioca Chiquinha Gonzaga (1847-1935) escreveu sua história na cultura brasileira e da luta pelas liberdades, ao enfrentar a sociedade patriarcal e escravocrata.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de outubro de 1847, da união entre José Basileu Neves Gonzaga, militar no Império, e Rosa de Lima Maria, filha de escravizada.
Foi criada para ser uma dama da sociedade, com estudos de leitura, cálculo, catecismo e habilidades consideradas femininas na época, como o piano.
Aos 16 anos, casou-se com o empresário Jacinto Ribeiro do Amaral, homem escolhido por seu pai e que ela detestava.
Continuou dedicando atenção ao piano, para descontentamento do marido, que não gostava de música e encarava o instrumento como rival.
Determinada, Chiquinha se rebelou e decidiu abandonar o casamento ao se apaixonar pelo engenheiro João Batista de Carvalho, com quem passou a viver.
O escândalo resultou em ação judicial de divórcio perpétuo movida pelo marido no Tribunal Eclesiástico, por abandono do lar e adultério. Por isso, os filhos do casal ficaram com o ex-marido.
A desilusão amorosa do casamento, o abandono familiar e as condenações morais impactaram diretamente a vida que Chiquinha trilhou.
Naquela época, era comum que mulheres da alta sociedade tocassem instrumentos, mas somente no âmbito familiar e pessoal. Chiquinha precisou usar a música para sobreviver.
Ela dava aulas de música e se apresentava. Aos 30 anos, emplacou o primeiro sucesso, a polca “Atraente”. Em 1883, musicou a peça “Festa de São João”.
Na virada do século 19 para o 20, Chiquinha criou a marchinha carnavalesca, compondo a música que a popularizou: Ó abre alas.
“Ó, abre alas, que eu quero passar
Eu sou da Lira, não posso negar
Eu sou da Lira, não posso negar”
(Ó abre Alas)
Chiquinha foi uma das compositoras brasileiras que trabalhou com maior intensidade para estruturar a música brasileira.
A obra de Chiquinha é estimada em trezentas composições, incluindo partituras para dezenas de peças teatrais.
Em paralelo, era militante política, denunciando o preconceito e o atraso social. Abolicionista fervorosa, vendia partituras para angariar fundos para a Confederação Libertadora.
Atualmente, pesquisadoras e ativistas lutam contra o embranquecimento de Chiquinha na história e mídia, destacando sua negritude.
Indo contra as expectativas da época de como a vida de uma mulher deveria seguir, Chiquinha Gonzaga escreveu seu nome na história do Brasil e do mundo
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Imagens: livro "Chiquinha Gonzaga, uma história de vida", Revista Brasil Feminino, Freepik, Pexels e reprodução.