A influência pagã da deusa da fertilidade “Eostre” na Páscoa

Por Daniela Valenga

Em 725 d.C., o monge Beda, conhecido como “Pai da História Inglesa”, ao escrever sobre as origens dos meses e rituais ingleses, afirmou que a Páscoa leva o nome de uma deusa anglo-saxã chamada Eostre.

O termo “anglo-saxões” é usado para se referir a povos germânicos que invadiram a Grã-Bretanha nos séculos 5 e 6. Em inglês, a Páscoa é chamada de “Easter” e, em alemão, de “Ostern”.

A afirmação de Beda é tema de debate até a atualidade entre historiadores e linguistas. Embora alguns afirmem que ele especulou sobre a origem, não foi encontrada outra ascendência para a palavra.

A pesquisadora italiana Martina Lamberti, que se dedica ao estudo da Idade Média e da Literatura Germânica, com enfoque na religião e magia, é uma das autoras sobre o tema.

Ela cita que, em 1859, foi encontrado um poema, que provavelmente seria uma canção de ninar do século 10, que citava a deusa: “Ostârâ para a criança deixa mel e ovos doces”.

Ostârâ é uma das formas que a deusa foi relacionada ao longo da história, como Ostern, Eostra, Eostur, Austron e Aysos.

A deusa é associada à primavera, fertilidade e novos começos e à “Ostara”, ritual celebrado no equinócio da primavera no hemisfério norte, entre os dias 19 e 22 de março.

Em 1882, o escritor Jacob Grimm, um dos irmãos Grimm, ao examinar as formas primitivas de mitologias presentes na Alemanha na época, defendeu que Beda estava certo.

“Ostara, Eástre, parece, portanto, ter sido a divindade da aurora radiante, da luz da primavera, espetáculo que traz alegria e benção”.

- Jacob Grimm.

Segundo a mitologia, Eostre encontrou um pássaro ferido na neve e transformou-o em uma lebre para o ajudar. Mas o processo não ocorreu por completo e o animal ainda tinha capacidade de botar ovos.

A lebre, para agradecer, decorou os ovos e presenteou a deusa que, maravilhada com a criatividade, quis partilhar com as crianças.

Também há quem diga que Eostre é relacionada às lebres por elas serem os primeiros animais a aparecerem nas florestas após o inverno rigoroso e símbolo da fertilidade.

Conforme cita a doutora em História, a brasileira Nathany Belmaia, em alguns países da Europa, a Páscoa também é celebrada com motivos primaveris.

Na Alemanha, por exemplo, além dos coelhos, a tradição também é estruturada com flores, joaninhas de chocolate e ovos pintados à mão, usados como decoração e em jogos com as crianças.

A partir de estudos, Belmaia aponta que o culto à Eostre ocorreu em uma pequena região da Inglaterra e Beda foi responsável por disseminar as informações.

No século 7, o Papa Gregório I, determinou uma série de ressignificações para a Inglaterra. Entre elas, a apropriação dos templos pagãos (não católicos) e a ressignificação das festividades.

“Faz sentido que, se o mês que mais frequentemente a Páscoa ocorria, abril, fosse dedicado à adoração de outra divindade (neste caso, Eostre), a mesma seria ressignificada para a Páscoa cristã.”

- Nathany Belmaia, Doutora em História.

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