A carta das mulheres Yanomami a Lula

Por Daniela Valenga

O garimpo e inação do governo Bolsonaro levaram a população yanomami à situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. 60 pedidos de auxílio ao governo foram enviados e ignorados.

Junior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, fala que 120 comunidades ficaram sem atendimento de saúde nos últimos quatro anos.

Além disso, a população indígena está bebendo água suja e contaminada por conta das atividades de garimpo ilegal.

Só em 2022, segundo o governo federal, 99 crianças Yanomami morreram. A maioria delas por desnutrição, pneumonia e diarreia, que são doenças evitáveis.

No final de novembro, lideranças femininas reunidas no XIII Encontro Anual de Mulheres Yanomami enviaram uma carta ao presidente eleito Lula em que denunciavam as situações que vivenciam.

Na carta, as mulheres denunciam que a presença dos garimpeiros está destruindo a floresta, poluindo os rios, inabilitando que as plantações cresçam e afetando os animais.

“Lula, os olhos dos peixes estão mudando. Até os animais estão diferentes, parecem magros e doentes. Estamos com medo de comer os peixes doentes.”

As mulheres também denunciam os abusos e as violências que sofrem pela presença dos garimpeiros na região.

“Garimpeiros assediam as meninas e outros querem pagar serviços maritais. Eles querem fazer assim, mas nós mulheres não queremos que nossas filhas e netas sejam entregues e abusadas por essas pessoas.”

A retirada das equipes de saúde da área por conta de conflitos com garimpeiros e a falta de medicamentos foram citadas pelas mulheres. Elas destacam os casos de malária na região.

“Os casos de malária explodiram em todo território, essa malária é muito forte e não tem medicamentos para tratá-la. O governo de Bolsonaro acabou com o estoque de cloroquina do Brasil e agora nós sofremos pela sua má gestão.”

A falta de estrutura da Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI) é citada. Elas contam que quando as crianças saem para o Hospital da Criança e retornam para CASAI, ficam doentes novamente.

“A CASAI está muito suja, tem esgoto que corre a céu aberto. Por isso nós Yanomami não saramos e ficamos doentes reincidentemente.”

Na carta, elas também escrevem sobre o que desejam, incluindo continuar vivendo nas suas terras, comer alimentação saudável e beber água limpa.

“Nós yanomami queremos viver novamente na terra sadia, que é a verdadeira terra-floresta Yanomami. Nós queremos que nossas crianças continuem nascendo bem e fortes.”

As mulheres também pedem pela retirada dos garimpeiros e suas máquinas. Entre 2018 e 2021, a área de garimpo na Terra Indígena cresceu de 1.200 para 3.272 hectares.

“Tem que fiscalizar os caminhos, bloquear os rios e pistas de pouso que eles usam para chegar até a nossa terra. Tem que fazer cumprir a lei. Nossa terra é demarcada e o garimpo nas Terras Indígenas é ilegal.”

Lula visitou unidades de saúde indígena que atendem Yanomamis vítimas de tragédia humanitária, em Boa Vista (RO), em 21 de janeiro. Equipes do SUS estão sendo enviadas para as aldeias.

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