Por Gleidiane de Sousa Ferreira e Tauana Olívia Gomes Silva*.

No artigo “Uma visão holística da democracia: a atuação política de mulheres negras no Brasil (1960-1980)” abordamos a trajetória política de três militantes brasileiras que atuaram na vida pública do país desde o período da ditadura militar até os dias atuais.

Nascidas entre a década de 1940 e 1950, Arabela Pereira Madalena (Minas Gerais, 1946), Edna Maria Santos Roland (Maranhão, 1951) e Maria do Espírito Santo Tavares dos Santos (Maranhão, 1948) possuem experiências de lutas atravessadas por contextos, ideias e ideais, exílios, filiações, identificações políticas e novas identidades que, com frequência, perpassaram a vida daquelas(es) que estiveram mobilizados(as) e em resistência no Brasil.

Através de suas trajetórias, analisadas especialmente por meio de entrevistas orais, pudemos perceber o modo como o debate classista, vinculado aos acúmulos políticos promovidos pelos setores da esquerda brasileira desde década anteriores, como o PCdoB e o Partido Comunista Brasileiro, e que marcaram inicialmente a atuação política dessas mulheres, foi integrando-se às reflexões feministas e antirracistas que reemergiram no país a partir de 1960. Esse contexto foi atravessado pelas resistências às ditaduras militares que assolavam a América do Sul mas, também, foi eco das mudanças vividas em diferentes partes do mundo, a exemplo das demandas por direitos civis da população negra nos EUA, dos processos de descolonização de países africanos e da efervescência do chamado “feminismo de segunda onda”.

Arabela Pereira Madalena fez parte da Ala Vermelha do PCdoB em fins de 1960 e inícios de 1970, exilou-se em Paris, onde pouco tempo depois integrou a Seção Feminina do Partido Comunista e o Comitê de Mulheres Feministas no Exterior. Posteriormente, em 1977, foi para Moçambique, lugar que desenvolveu um trabalho como educadora até o momento que retorna ao Brasil e passa a atuar no Movimento Negro Unificado. Edna Maria Santos Roland, integrou a Organização Revolucionária Marxista Política Operária (OCML-POLOP) na década de 1970, contribuindo para a fundação do Coletivo de Mulheres Negras de São Paulo em 1984. Atuou também no Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo e foi uma das fundadoras do Geledés Instituto da Mulher Negra. Maria do Espírito Santo Tavares dos Santos integrou o Partido Comunista Brasileiro e participou dos conhecidos grupos de reflexão feminista que existiram em inícios da década de 1970 no Brasil. Fez parte da organização do Ano Internacional da Mulher em 1975 e contribuiu na fundação do Centro da Mulher Brasileira (CMB) no Rio de Janeiro. Como médica e militante, integrou a equipe que formou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1983, colaborando para a organização do Primeiro Encontro de Saúde da Mulher em 1986.

Desse modo, o artigo problematiza: como essas mulheres articularam individual e coletivamente questões de classe, de raça e de gênero ao longo desse período? Teria isso permitido uma leitura de si e do mundo mais atenta às distintas e simbióticas desigualdades estruturais do Brasil, especialmente na década de 1980, quando o debate sobre a democracia ganha nova força?

Através de uma abordagem que tenta observar, refletir e contextualizar os processos de identificação política dessas mulheres, analisamos se as suas atuações e percepções políticas cada vez mais interseccionais permitiram uma “visão holística” dos problemas do país e, portanto, também de seus desafios democráticos. Argumentamos que sim. Desse modo, acreditamos que suas histórias são inspiradoras e nos ajudam a entender os desafios que constituíram o Brasil naquelas décadas, mas que seguem compondo nossa realidade.

Esperamos que gostem do texto e que possam refletir sobre e junto com elas.

Assista ao episódio:

https://www.youtube.com/watch?v=1vzyDZFG-Bw&t=2s

Quer saber mais?
Acesse o artigo “Uma visão holística da democracia: a atuação política de mulheres negras no Brasil (1960-1980)” para leitura mais aprofundada sobre este tema, disponível no livro resultante do Projeto Mulheres de Luta.

Clique aqui para acessar o webdocumentário Mulheres de Luta completo.

Ficha técnica:
Entrevistadas: Edna Maria Santos Roland, Arabela Pereira Madalena, Maria do Espírito Santo Tavares dos Santos
Roteiro e entrevistas: Tauana Gomes Silva
Edição: Marina Moros

*Gleidiane de Sousa Ferreira é doutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).

*Tauana Olívia Gomes Silva é graduada em História pela Universidade Vale do Rio Doce- MG (2005) e pela Université Rennes 2- França (2008). Mestre em História e Relações Internacionais pela Université Rennes 2 (2010)- convenção com a Universidade Federal de Santa Catariana (2009). Doutora em História pela Université Rennes 2 em cotutela com a Universidade Federal de Santa Catarina. Atua principalmente nos seguintes temas: História das Mulheres Negras, Feminismo Negro, Relações de Gênero e Raciais, Movimentos Sociais, Memórias, Resistências à Ditadura Militar Brasileira.

Edição de Morgani Guzzo.

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