Ah, que saudades da Neide! — biografia da cantora Neide Mariarrosa
“Ah, que saudades da Neide!”, resultado de um trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), das graduandas Fernanda Peres e Taise de Queiroz Bertoldi, é uma grande reportagem em vídeo sobre a vida da cantora Neide Mariarrosa, gravada no primeiro semestre de 2008.
Neide Mariarrosa, mulher negra, foi uma das principais cantoras de Santa Catarina e é um nome essencial quando se fala na construção da identidade cultural de Florianópolis. Ela ajudou a projetar Santa Catarina artística e culturalmente em outros estados brasileiros e abriu portas para vários músicos locais.
Florianopolitana, nascida na rua Menino Deus, em 11 de abril de 1936, começou sua carreira no rádio, aos 13 anos de idade, como cantora. A partir de um concurso que venceu, começou a trabalhar na Rádio Guarujá e pouco tempo depois na Rádio Diário da Manhã, onde era cantora, radioatriz e locutora, nas décadas de 1950 e 1960.
Conhecida pelo timbre de voz e pela capacidade de fazer até quatro personagens diferentes em uma mesma radionovela, teve seu talento reconhecido por Elisete Cardoso, cantora de renome e sucesso nacional, que, após conhecer Neide durante a passagem para um show em Florianópolis, em 1962, convenceu a catarinense a ir tentar a carreira no Rio de Janeiro.
Na capital fluminense, gravou seu primeiro compacto e morou na casa de Elisete Cardoso entre 1964 e 1970, quando teve a oportunidade de conhecer grandes nomes da música como Baden Powell, Elis Regina e Jacob do Bandolin. Entre suas atividades, estrelou o espetáculo Sua Excelência, o Samba, que ficou durante quase um ano em cartaz no Golden Room do tradicional Copacabana Palace. Além disso, participou, em 1967, do II Festival Internacional da Canção, quando classificou composições de Edu Lobo e Paulo Gustavo da Silva Constanza entre as 20 finalistas e ficou com o segundo lugar na premiação de melhor intérprete do festival, perdendo para Milton Nascimento. Participou de outros festivais de música, como o de Juiz de Fora, onde foi escolhida a melhor intérprete, e a I Bienal do Samba de 1968, quando defendeu a música Protesto Meu Amor, de autoria de Pixinguinha.
Na TV, apresentou-se em programas como o do apresentador Flávio Cavalcanti e Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte-Preta. Foi, inclusive, durante o primeiro programa que participou de Stanislaw Ponte-Preta, que Neide, por sugestão de Elisete Cardoso, junta o “Maria” e o “Rosa” de seu nome, e passou a assinar artisticamente como “Neide Mariarrosa”.
Em 1965, a prefeitura de Florianópolis lançou um concurso para escolher uma música que representasse a Capital dos catarinenses. Na ocasião, o amigo e poeta Zininho convidou Neide, então a mais famosa cantora do Estado, para interpretar seu Rancho de Amor à Ilha, que ele havia composto especialmente para o concurso. Neide gravou a música acompanhada do grupo Titulares do Ritmo. O Rancho venceu o concurso e, em 1968, foi oficializado como hino da cidade.
Dois anos depois, ainda no Rio de Janeiro, Neide passou a fazer parte do incipiente movimento Musicanossa, que reunia nomes da bossa nova e artistas como Beth Carvalho, Nara Leão, Paulo Sérgio Valle e Roberto Menescau. Dessa fase, existe o LP Isto é Musicanossa!, no qual Neide interpreta a faixa Pobre Morro.
Apesar de todo o sucesso em shows e festivais, em 1970 Neide voltou para Florianópolis. O que era para ser apenas uma visita de Natal à família, transformou-se em um retorno definitivo à cidade. Sobre essa volta, as opiniões de parentes e amigos são diversas. Há quem diga que Neide teve um grande desgosto no Rio de Janeiro e por isso resolveu voltar, há quem diga que foi saudade.
Em Florianópolis, Neide foi proprietária de dois restaurantes, onde pretendia reunir os amigos e artistas da cidade. Sem tino para os negócios, se viu obrigada a fechar os estabelecimentos. Passou então a cantar na noite e a acompanhar esporadicamente dois grupos: o conjunto de regional Vibrações e a banda baile Quebra com Jeito. Em 1988, foi convidada pela Fundação Franklin Cascaes a gravar aquele que seria seu primeiro e único LP, intitulado Eu sou assim, apenas com músicas de compositores da Ilha.
Pouco tempo depois, Neide adoeceu e, vítima de câncer de mama e de ossos, morreu, aos 58 anos, no dia 4 de setembro de 1994, em Florianópolis.