A deputada estadual Ana Paula Lima (PT) sofreu ofensa misógina durante sessão plenária da Assembleia Legislativa de Santa Catarina nesta quarta-feira (21). O ataque aconteceu após a parlamentar defender a extinção das Agências de Desenvolvimento Regionais (ADRs), órgãos do governo do Estado, por julgá-las “cabide de emprego de partidos”. Contrário à opinião, o deputado Roberto Salum (PRB) usou a tribuna para dizer que não gostaria de debater com a deputada Ana Paula, “mas com o marido dela, que é homem” [o deputado federal Décio Lima].  Outro deputado, Mário Marcondes (PMDB), também usou a palavra para declarar apoio ao posicionamento do colega.

Em aparte, a deputada rebateu: “Não preciso de homem nenhum para me defender e quem não discute comigo é porque não tem argumento. Cheguei aqui com o voto de homens e mulheres e faço a defesa dos trabalhadores e trabalhadoras e do povo de Santa Catarina”, afirmou Ana Paula, autora de Projeto de Lei nº 221.1/2017, que requer a supressão das 35 Agências de Desenvolvimento Regional (ADRs). “O deputado não quis debater o projeto, ele veio com ofensas não só a minha pessoa mas ao que eu represento neste parlamento, que são as mulheres. Foi uma atitude covarde e machista”, contou a deputada, em entrevista a Catarinas.

Confira o vídeo produzido pela assessoria da bancada do Partido dos Trabalhadores:

 

Eleita pelo quarto mandato, Ana Paula Lima conta que foi a primeira vez que teve sua autoridade contestada no parlamento por ser mulher. “Aqui não é um local de ofensas, mas de debate de ideias. Eu sei que milhares de mulheres sofrem isso todos os dias nos seus locais de trabalho, escolas e espaços. Nós não podemos nos calar. Até o fim do meu mandato vou fazer outras ações para inibir estas situações”, disse a parlamentar.

Santa Catarina é o estado com o menor número de mulheres ocupando cargos legislativos. Ana Paula é uma das três mulheres com vaga na assembleia catarinense. A deputada Luciane Carminati, coordenadora da bancada feminina, se manifestou em apoio a Ana Paula Lima. “Para alguns homens este espaço ainda é só deles. Somos apenas três mulheres nesta casa, mas sempre conseguimos discutir em alto nível”, afirmou Luciane. “O que aconteceu aqui remete a muitas violações que sofremos no dia a dia, na remuneração mais baixa, no assédio, na disparidade que existe nos espaços de poder”, complementou.

Segundo testemunhas, o gesto de Salum teria recebido o consentimento de outros deputados e passou entre risos no plenário. Ana Paula afirma que também recebeu a solidariedade de alguns colegas. “Houve quem veio individualmente se solidarizar, mas esta casa tem que dar a sua resposta”, cobrou.

“Essa fala foi feita pelo deputado como se fosse uma coisa comum, como se a gente não fosse um ser político e que estivesse em todos os espaços da sociedade. Se as mulheres passam esse tipo de violência em espaços públicos, imagine o que não acontece nos espaços privados”, afirmou a ativista do Movimento 8M, Schirlei Azevedo. “Fico imaginando o que passam vereadores das cidades mais distantes”, complementou. O episódio, afirma Schirlei, ilustra a relevância do tema que as ativistas levarão para as ruas no 8 de março: rebelião das mulheres. “É hora da gente se rebelar. Precisamos colocar mais mulheres nestas posições por que hoje o que existe é uma co-relação de forças muito desigual”, disse a ativista, convocando as mulheres a tomarem parte da luta contra o machismo.

Roberto Salum é ex-apresentador de programa policial na TV aberta e assumiu o cargo como suplente em julho de 2016. Segundo sua assessoria, o parlamentar deve se manifestar sobre o caso na próxima sessão plenária.

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