Com o apoio da Instituto de Bioética (ANIS), a Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep), ingressou na última de quarta-feira (24) com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para exigir a garantia do direito ao aborto às mulheres afetadas pelo Zika vírus e destacar a necessidade de políticas públicas efetivas às mulheres e crianças portadoras da Síndrome Congênita do Zika. A ação judicial foi fruto de um esforço coletivo de pesquisadores, ativistas e especialistas da área jurídica.

Na Ação, a Anadep e Anis defendem que as mulheres tenham acesso a diagnóstico de qualidade para detectar a doença. Para as mulheres e crianças já afetadas pela epidemia é fundamental o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) para além do prazo de três anos, o acesso aos procedimentos para Estimulação Precoce das crianças com a síndrome em Centros Especializados em Reabilitação (CERs) situados em distância de até 50 km da residência do grupo familiar e/ou o pagamento de tratamento fora de domicílio (TFD) para os deslocamentos iguais ou superiores a 50 km. Além disso, as Entidades afirmam que é preciso garantir o direito à informação atualizada, de qualidade e em linguagem acessível sobre a epidemia e seus riscos. O planejamento familiar, o que inclui acesso a contraceptivos adequados, também é um ponto discutido. Por fim, a ADI justifica às mulheres grávidas infectadas pelo Vírus Zika e, que estão em sofrimento psíquico diante da epidemia, a possibilidade excepcional de interrupção da gestação.

Débora Diniz, antropóloga, professora da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis, explica que a ação é em defesa dos direitos, em especial, das mulheres pobres. “Grande parte das crianças nascidas com a síndrome neurológica do Zika está concentrada em quatro estados do país, todos na região Nordeste. Estamos falando, sim, de uma grave epidemia, com consequências para pessoas mais vulneráveis, mulheres nordestinas de zonas rurais, pobres com pouquíssimo acesso à políticas de postos de saúde, de transporte e de proteção social”, pontua.

Levantamento realizado pelo Instituto Patrícia Galvão mostra que 70% das gravidas entrevistadas acompanhadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) gostariam de ter feito mais exames de ultrassom para detecção de microcefalia em seus bebês. Conforme o presidente da Anadep, Joaquim Neto, é importante destacar que esta é uma epidemia sazonal: se os primeiros casos foram conhecidos no final de 2015, é possível que estejamos na iminência de um novo ciclo de mulheres e bebês afetados pelo vírus, o que exige ainda mais urgência a garantia de direitos. “Em várias regiões do país, a Defensoria Pública foi procurada pelas vítimas da epidemia. É importante frisar que a população de maior risco são mulheres pobres e nordestinas”, explica.

Síndrome Congênita do Zika
A síndrome congênita do zika é um conjunto de sinais e sintomas nos fetos ou nos recém-nascidos afetados pelo vírus zika e não há cura, apenas tratamentos paliativos ou estimulação precoce para o desenvolvimento da criança. De acordo com dados do Ministério da Saúde (informe epidemiológico do Ministério da Saúde nº. 38, até 06 de agosto de 2016), até o momento há 8.890 casos notificados para microcefalia e/ou outras alterações do sistema nervoso central. Destes, 1.806 casos (incluindo recém-nascidos, natimortos, abortamentos e fetos) já estão confirmados para microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central sugestivos de infecção congênita. Contudo, há, ainda, 2.978 casos sob investigação.

 

 

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

Últimas