24 de maio, dia de sol escaldante em Brasília. Desde a madrugada, começam a chegar ônibus de todos os estados brasileiros para o protesto organizado pelas centrais sindicais e movimentos sociais. Na pauta, a saída imediata do presidente da república Michel Temer (PMDB), eleições presidenciais diretas e o estancamento das tramitações da reforma trabalhista e da previdência no Congresso Nacional. A concentração no estádio Mané Garrincha foi o ponto de encontro das caravanas estaduais, preparando o clima para a marcha que aconteceria logo no início da tarde. Passava do meio dia quando manifestantes iniciaram a caminhada que pretendia terminar em frente ao Congresso Nacional, mas que acabou dispersa no início da Praça dos Três Poderes, pulverizada pela forte repressão policial.

Muita gente viajou durante horas ou dias até chegar em Brasília, mas apesar do cansaço, demonstrava energia para a empreitada que seria marcada pela resistência popular frente a uma forte ofensiva da Polícia Militar (PM). “Viajamos 24 horas para chegar até Brasília e viemos aqui para reivindicar os nossos direitos e denunciar esse governo”, afirma Margarete, que mora no Rio de Janeiro e trabalha no setor de endemias do Ministério da Saúde.

A forte repressão não foi o suficiente para o recuo dos ativistas que protestaram pela saída de Michel Temer, nesta quarta-feira (24), em Brasília. Foto: Sílvia Medeiros.

Enquanto muitos ainda se deslocavam do estádio Mané Garrincha, o primeiro bloco de manifestantes sofreu a primeira onda de violência. Um forte aparato policial foi montado, inviabilizando o acesso ao gramado em frente ao Congresso. Bombas foram arremessadas em direção às pessoas que buscavam se aproximar dos carros de som das centrais, já localizados em frente ao Congresso Nacional. “Nossa intenção era fazer uma marcha pacífica, mas infelizmente a polícia e o governo agiram com violência. Não vamos recuar, vamos fazer outras manifestações como esta. Não dá para aceitar tudo de ruim que esse governo está jogando em cima da gente”, argumenta a trabalhadora do INSS, Rosemeri Nágela de Jesus, que viajou mais de 30 horas junto à caravana de Santa Catarina que contou com cerca de 30 ônibus e mobilizou em torno de 1.200 ativistas catarinenses.

Praça de guerra

Bombas e gás de pimenta foram utilizados pela PM para reprimir a manifestação. Foto: Sílvia Medeiros.

A tarde foi de muito corre-corre em meio a nuvens de gás de pimenta, balas de borracha e bombas arremessadas no meio da multidão pela PM. A resposta ao ataque militar foi imediata. Barricadas e ataques aos prédios públicos foram a forma de protesto possível diante da violência com que agiram polícia e governo. Através de decreto presidencial, Temer autorizou o emprego das Forças Armadas para a “garantia da lei e da ordem no Distrito Federal”. Chamado de “AI-5” pelos movimentos sociais e sindical, em referência ao decreto emitido pelo governo militar brasileiro em 1968, foi revogado nesta quinta-feira (25).

Numa das laterais da Esplanada dos Ministérios o embate foi maior, balas de borracha atingiram muitos manifestantes, nas costas, no peito e até nos olhos. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal são 49 pessoas feridas e oito presos. Um manifestante foi atingindo por arma de fogo no maxilar e respira com a ajuda de aparelhos. A metalúrgica de Joinville, Longina Pinto de Araújo, participou pela primeira vez de uma manifestação em Brasília. Indignada, relata a impressão sobre violência policial e o momento em que socorreu o colega de trabalho atingido no peito por uma bala de borracha. “Eu nunca vi isso, jamais imaginei que seríamos tratados com tanta crueldade. Nenhum ser humano merece passar pelo que passamos. A gente não é marginal, lutar não é crime. Se esse governo achou que iria nos amedrontar, está muito enganado. Volto pra casa com o grito preso na garganta e com a certeza que temos que retirar esse bandido do governo e impedir com todas as nossas forças que ele faça mais mal ao país”, desabafa.

Entre as armas utilizadas pela PM, balas de borracha atingiram ativistas como o metalúrgico de Joinville, Marcio da Silva Francisco. Foto: Sílvia Medeiros.

Um dos casos mais graves registrados envolveu o estudante catarinense Vitor Rodrigues Fregulia, que teve parte da mão decepada por uma bomba. O estudante perdeu três dedos da mão direita e passou por uma cirurgia para reconstrução do dedo indicador. Vitor seguirá internado até terça-feira (30) para acompanhamento médico e recebe suporte de entidades nacionais e lideranças de Santa Catarina.

Em Florianópolis, ativistas organizam ato em solidariedade aos protestos no DF

Juventude e mulheres protagonizaram o protesto, nesta quarta-feira (24), em Florianópolis.

A capital catarinense também realizou atividades nesta quarta-feira (21). Desde as 17h, integrantes do Fórum em Defesa dos Direitos panfletaram no centro da cidade e dialogaram com a população sobre o momento político, as reformas que tramitam no Congresso e a forte violência que marcou os protestos em Brasília. Com concentração no Largo da Alfândega, os manifestantes seguiram em direção ao Terminal Integrado do Centro (Ticen) e realizaram um ato. Na sequência, uma marcha seguiu pelas ruas centrais da cidade. Movimentos de juventude protagonizaram a atividades, com cartazes, música e muitas palavras de ordem. A voz feminina também foi destaque entre manifestantes que exigiam a saída de Michel Temer.

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