Símbolo da liberdade sexual feminina, a primeira pílula anticoncepcional foi lançada nos Estados Unidos exatamente no dia 18 de agosto de 1960. Mais de cinco décadas depois, o método mais comum de contracepção revolucionou a vida das mulheres mundo afora. No entanto, com os anos e o apelo da indústria, vieram a prescrição compulsória, a supressão da menstruação e outras práticas que vem suscitando questionamentos.

Desde que dominam o poder de planejar a gravidez, as mulheres puderam fazer escolhas sobre maternidade, acesso ao mundo do trabalho e outros caminhos. Cerca de 100 milhões de mulheres em todo o mundo fazem uso da pílula, segundo a mais recente pesquisa divulgada pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), em 2014.

As pesquisas para criação de um medicamento capaz de inibir a gravidez aconteciam clandestinamente pelo menos 10 anos antes. Segundo relatos históricos, enfermeira Margareth Sanger conseguiu apoio de uma milionária chamada Katherine McCormick para financiar o desenvolvimento da pílula pelo cientista Gregory Pincus. A indicação do medicamento não era a contracepção, proibida na época, mas o alívio dos “sintomas” da menstruação.

De lá para cá, as intervenções medicamentosas sobre a menstruação apenas aumentaram. Nos anos 90, vieram as pílulas de uso contínuo e implantes, cuidadosamente respaldados por bibliografias médicas e pelo lobby da indústria farmacêutica. “As drogas propagandeadas para supressão da menstruação estão sempre aliadas a uma mensagem negativa sobre as mulheres, suas menstruações e seus corpos. Um discurso que liga seu uso a um determinado estilo de vida, um item de consumo descolado de sua função. Assim, não menstruar passa a ser visto como cool, hype, moderno”, diz a ginecologista Halana Faria no artigo “ Muito além do risco de trombose: relações entre política e contracepção”.

Integrante do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde com atuação em São Paulo e Florianópolis, ela denuncia a ofensiva do controle produtivo das mulheres, um dos contextos da campanha contra a menstruação. “Algumas fábricas de países ditos desenvolvidos exigem que suas funcionárias usem braceletes indicando seus períodos menstruais para justificar idas mais frequentes ao banheiro. Controle e biopoder travestidos de cuidado, porque não menstruadoras (para incluir aqui homens trans) podem ser vistas como mais produtivas dentro dessa lógica”.
Leia aqui a íntegra do artigo.

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  • Ana Claudia Araujo

    Jornalista (UPF/RS), especialista em Políticas Públicas (Udesc/SC), mãe de ninja.

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