Por Linete Martins.

A cena é daquelas que se repetem a cada show de artistas com a popularidade de Ludmilla:  na saída do camarim, fãs com os olhinhos fixos na porta esperando a estrela. Celulares preparados, a esperança é conseguir uma selfie com a cantora – conseguir um abraço seria um luxo! Mas ela sai rápido, muito rápido, escoltada pelo produtor e um segurança. Já são quase 2h30 da madrugada de domingo (31) e nova apresentação está marcada para às 4h em Balneário Camboriú. Desta vez, uma pessoa conseguiu a selfie e ela, simpática, até faria outra, talvez. Mas o mise-em-scéne  quase exagerado da equipe é puxá-la e tirá-la dali para seguir viagem. E assim, na dificuldade do acesso, o mito se fortalece.

Minutos antes conseguimos uma entrevista relâmpago no camarim. A ideia era conversarmos com ela antes do show, marcado para iniciar à meia-noite. Mas por esses “fuso-horários” complicados que envolvem a agenda e produções de grande porte, o encontro ficou para depois do show. Lógico que nada profundo ou desgastante poderia ser realizado naquele horário com uma artista que acabava de se entregar no palco, colocando pra dançar as mais de três mil pessoas que saíram de casa na noite de fria de sábado para o show no Centro de Eventos Petry, em Biguaçu, na região da Grande Florianópolis (SC).

Foto Ludmilla

Nós ficamos entre as três equipes da imprensa selecionadas pela assessoria de Ludmilla. E a determinação do produtor foi que teríamos direito a minutinhos cronometrados. O que queríamos saber mais dessa menina, de apenas 21 anos, que começou a carreira como MC Beyoncé e agora é considerada a nova sensação do pop funk?

Uma pergunta só e fomos direto ao foco: como ela lida com o movimento das mulheres que se fortalece no país? (A ideia seria um pequeno vídeo, mas naquela hora, um celular próximo do rosto, na correria, não foi permitido nem por ela nem pelo produtor. Tudo com muita educação e cuidado, como deve ser. Tudo bem, ficamos com o áudio). E a resposta da cantora:

 – Eu to achando maravilhoso e dou o maior apoio pra continuarem sim porque as mulheres têm direitos também iguais aos homens e têm que lutar por eles. To achando maravilhoso e se precisarem de mim, estamos aí!

 Admirada e copiada por milhares de jovens que se identificam com suas músicas, sua imagem e sua dança (o quadradinho de oito então, é uma das sensações da coreografia acompanhada por duas bailarinas e dois bailarinos), Ludmilla trabalha se divertindo.

E no palco, empoderada?
– No palco, é o meu horário de lazer assim. Então eu não sei se é empoderada. Mas eu sei dizer que é feliz.

Ela, que chegou à fama em 2012 com a canção “Fala Mal de Mim”, já anunciou pra agosto o lançamento do segundo disco, tem mostrado engajamento natural em causas que estão aí, para serem debatidas e enfrentadas. Em recente ataque racista nas redes sociais, reagiu, fez B.O. Mesmo não parecendo ter a pretensão de empunhar bandeiras, declarou num programa de TV:

“Sinto que tenho de continuar fazendo esse papel representativo e queria que mais artistas negros surgissem e no topo das paradas.”

“Elza Soares e Alcione são símbolos, mas precisamos sempre atualizar a luta.”

A funkeira vinda de Caxias (RJ) está sabendo ocupar o seu lugar no mundo com a experiência de veteranos. “Ludmilla é muito verdade”, eu ouvi de alguém. Também achei, depois de conhecê-la de perto.

E na metade do show, neste sul do país, uma paradinha pro grito de guerra:

“É som de preto
De favelado
Mas quando toca, niguém fica parado!”

Linete é jornalista e assessora de imprensa da bancada feminina na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

 

 

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