“Chegamos de 30 países para reafirmar nossa vontade de luta feminista e resistência para evitar que os corpos de mulheres continuem a ser território de conquista patriarcal”, afirmou a ex-deputada dominicana Minou Tavarez Mirabal em discurso emocionado na manifestação “Duas marchas, um ato: diversas, mas não dispersas”, no encerramento do 14º Encontro Feminista Latino-americano e Caribenho (Eflac).  Minou é filha e sobrinha das irmãs dominicanas assassinadas brutalmente em 25 de novembro de 1960 pela ditadura de Leonidas Trujillo na República Dominicana, fato que motivou a criação do Dia de Luta Contra a Violência às Mulheres. O ato uniu duas marchas que partiram de lugares distintos até chegar à esplanada da Intendência de Montevidéu, no Uruguai. Participantes do Eflac e as “Mujeres de Negro” juntaram suas forças para dizer que o fim da violência contra as mulheres é ponto de convergência entre as lutas feministas.

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“Marchamos porque não é possível para nós viver em sociedades que toleram casamentos forçados, maternidade forçada, aborto forçado e aborto proibido, violações corretivas, tráfico de mulheres, especialmente mulheres transgêneros, indígenas e afrodescendentes. Marchamos para dizer que basta de violência machista, de violência heteronormativa, de crimes de poder”, disse a deputada do alto da esplanada.

A deputada dominicana atentou para as diversas formas de violência como crimes de poder/Foto: Jeane Adre

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Ano após ano no Uruguai, o coletivo “Mujeres De Negro” realiza uma marcha em 25 de novembro pela Avenida 18 de Julio. As participantes vestem preto e avançam em silêncio para criar uma performance em movimento, cujo propósito é mostrar o luto e silenciar uma das estradas mais movimentadas. Neste ano a mobilização coincidiu com o encerramento do 14ª Eflac.

Foto: Chris Mayer

Nos dias 22 e 23 de novembro duas meninas, uma de 9 anos e outra de 12, foram encontradas mortas no Uruguai. A violência sexual seguida de assassinato comoveu  participantes do encontro e foi repudiada por Minou. “A realidade da nossa região e do mundo continua a ser uma em que a violência não cessa, em que as agressões e assassinatos de mulheres aparecem diariamente na mídia de comunicação com tanta frequência que começam a assumir-se como algo inevitável. Mas não há nada inevitável ou fatal sobre a violência de gênero. O certo é que não está se fazendo todo o possível para prevenir e combatê-la”.

Se existe algo que move as feministas do mundo é a luta contra a violência às mulheres, como lembrou Ana Cristina Gonzales, da Articulação Feminista Marcosur, da Colômbia. “Estamos ainda mais mobilizadas, especialmente agora com esse fato tão triste da morte de meninas violadas e assassinadas no Uruguai. A marcha recordou as vítimas e, sobretudo, que as feministas estão aqui para reafirmar que não estamos dispostas a suportar a violência”, disse Ana Cristina.

Foto: Chris Mayer

Negras, indígenas, mulheres em região de conflito, campesinas, lésbicas, bissexuais, transgêneros e travestis marcharam juntas na atividade que encerrou o Eflac. Kuarahy, integrante da Nação Charrúa de Uruguai (Conacha), marchou em defesa dos direitos dos povos originários. O objetivo da Conacha é alcançar o reconhecimento da população indígena, ratificar o convênio 169 da OIT e aumentar a visibilidade do tema. “Reivindicamos que nos reconheçam. Aqui estamos, de pé, e não podem negar que existimos. Estamos recuperando e recordando nossa cultura. O Estado uruguaio não nos reconhece”, afirma Kuarahy.

Kuarahy luta pelo reconhecimento de seu povo/Foto: Paula Guimarães

Com o tema “Diversas, mas não dispersas”, o 14º Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe concentrou debates entre os dias 23 e 25 e teve a participação de mais de duas mil mulheres. Após a marcha, as participantes se despediram com uma festa no Museu do Carnaval. “Foi maravilhoso, com muitos debates e pluralidade, mulheres de todas as cidades, indígenas, afrodescendentes, campesinas, lesbianas, enfim cada uma com seu espaço para se pronunciar. Sempre faltam coisas, temos desafios e lutas à frente. Estamos na rua contra a violência de gênero, que é parte de nossa luta de todo dia”, avaliou Lilián Celiberti, do coletivo Cotidiano Mujer, uma das organizadoras do evento.

“Foi um encontro extraordinário, o maior que já participei. Sobretudo, foi um encontro com uma quantidade e diversidade de mulheres impressionante. Os feminismos são muito diversos. Às vezes estamos dispersas porque nossas lutas são muitas e teremos muitas frentes pelas quais disputar no horizonte. Mas sempre que é necessário as feministas não estão dispersas”, analisou também a representante do Marcosur.

Foto: Chris Mayer

Dia de luta
A origem do Dia Latino Americano e Caribenho contra a Violência à Mulher data remonta a 1981, quando ocorreu o primeiro Eflac, em Bogotá, na Colômbia. Ali, o dia foi definido em homenagem às irmãs Mirabal. Porém, foi apenas em 1999, quase duas décadas após a primeira consulta, que a Assembleia Geral da ONU resolveu que a partir do ano seguinte, 25 de novembro seria oficialmente a data estipulada como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher.

Atualizada às 13h de 2 de dezembro.

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