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Allana Khristie tem 24 anos, é artista, pagã, gorda, preta e libriana. Ela é uma das mulheres que contam suas histórias em imagens e textos no projeto “Eu escolho ser livre”, da fotógrafa Cristiane Martins. No ensaio realizado em Rio Branco, no Acre, cada praticante elegeu o cenário, a narrativa e ao final os dez registros para composição do projeto. “O produto final nada mais é do que o modo como cada participante se aceita, reconhece e se representa. Trata-se de uma representação fiel da própria participante”, diz a fotógrafa.

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“Eu escolhi ser livre para renascer, retomar meu corpo e meu feminino. Fui vítima de estupro, e meu agressor jamais foi punido. Durante anos, cumpri uma pena de medo, dor e culpa. Como acontece com a maioria das vítimas, me via como culpada. Essa história me ensinou que não importa ser ‘boa menina’, ou qualquer uma dessas coisas que nos ensinam como formas de proteção. Nada disso me livrou de ‘estar pedindo’, de ‘merecer’, de ser puta”, revelou a participante Andréia Baia, 36 anos, antropóloga.

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Ao mesmo tempo em que protesta contra padrões estéticos e de comportamento, “Eu escolho ser livre” busca exibir a diversidade da beleza de mulheres em diferentes idades, formas, trajetórias, que ora se afirmam, ora se ressignificam. “No mundo, no Brasil e, especificamente, na região amazônica vivemos um contexto de extremo empoderamento de nós mulheres, que diante de incontáveis abusos, violência e cerceamento, decidimos por reclamar nosso direito à liberdade de ser, de escolher, de sentir e de viver”, explica a idealizadora.

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São fotos afetivas realizadas em jardins, florestas, flores, açudes, plantas de família, árvores frutíferas e na própria casa das mulheres. As imagens e relatos trazem temas como belezas naturais, protestos, discurso, magia, encantaria, feminilidade, suavidade, ferocidade e agressividade. De acordo com Cristiane, o importante foi transmitir uma mensagem, contar uma história e se empoderar através do registro fotográfico.

Nu político
“Eu escolho ser livre” traz um nu político que contesta a instrumentalização do corpo da mulher pela sociedade. Na apropriação do próprio corpo, esse grupo de mulheres reverteram aparentes fragilidades em suas fortalezas. “Podemos usar o corpo para subverter a ordem. Corpo político, aqui, é o corpo que reclama sua representatividade e lugar na sociedade, que discursa em prol da liberdade; que diz não às formas padrão; que, acima de tudo, assume que a estética como está posta pelo senso comum é uma convenção criada para coagir peles, curvas, fios, cores, texturas, nuances e profundidades”, diz Cristiane.

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A fotógrafa espera com o trabalho a conscientização de mulheres contra a ordem imposta do patriarcado, do sexismo, da misoginia e da violência. “Nós, as mulheres de hoje, escolhemos ser livres de julgamentos, de padrões, de imposições, de medos. Decidimos ser livres, por mim e por você.”

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O ensaio ato II com outro grupo de mulheres está previsto para os próximos meses.

 

 

 

 

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  • Paula Guimarães

    Paula Guimarães é jornalista e cofundadora do Portal Catarinas. Escreve sobre direitos humanos das meninas e mulheres. É...

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