Até o dia 29 de setembro, Entranhas e Mácula, duas séries de trabalhos de Silvana Macêdo, ocupam a Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti e o Memorial Meyer Filho, em Florianópolis, com pinturas a óleo e acrílico sobre tela, outras em nanquim sobre papel, e gravuras em metal. Na próxima terça (19), às 18h30, ela reapresenta “Maculada”, uma performance que marcou a abertura no dia 5 de setembro. A questão que move a artista e pesquisadora é a representação da natureza pela arte e pela ciência. O trabalho incorpora, segundo a artista, um “mobiliário lindíssimo”, emprestado pela Fundação Senhor dos Passos, parceira do projeto. Um leito hospitalar, uma pequena mesa, suporte para soro e vidros, além de outros objetos do acervo do Imperial Hospital de Caridade, servem como recursos cênicos da performance.

Foto: Duda Desrosiers

As mostras Entranhas e Mácula têm um traço intimista. De caráter autobiográfico, a representação do corpo aparece como pulsão de autoconsciência do sujeito. Num processo psicológico de transformação, o enfrentamento de uma doença, a artista converte vicissitudes em arte. Entre 2014 e 2017, pinta e grava, cria uma poética de perda e vazio. Vísceras, osso, olho, órgãos, tecidos, células, rim – o corpo, um dos grandes temas do pensamento contemporâneo no cerne desses trabalhos que também dialogam com questões da medicina e da dialética entre arte e saúde.

Pintura Entranhas

A curadoria de Juliana Crispe pede a atenção sobre um percurso artístico iniciado em 1990 e que se situa no desejo de aproximar arte, ciência e natureza. Ao longo de sua trajetória, Silvana Macêdo alinha pinturas, gravuras e videoinstalações à estética ambiental e a discussões feministas.  Nascida em Goiânia em 1966, moradora da Ilha de Santa Catarina desde 2004, onde atua como professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), ela pinta, grava e transita em multimeios, pesquisa telepresença, tecnologias novas e antigas para apresentar videoinstalações.

Outros discursos
Arte com caráter autobiográfico é uma exceção no pensamento artístico de Silvana Macêdo.  Seu percurso revela o quanto aprecia ações coletivas e atuações colaborativas. A maior parte de sua produção está em sintonia com o artivismo. Adota estratégias simbólicas para amplificar certas causas, faz intervenções urbanas, obras efêmeras, como Paisagem Especulada (2009), uma escrita monumental na praia do Pântano do Sul, ou Baleia-franca (2006-7), videoinstalação e projeto on-line desenvolvido com o programa ambiental Baleia-franca. Aposta em experimentações estéticas, realiza residências, atua com equipes multidisciplinares, de músicos a cientistas, interessados em assuntos de comunidade, tecnologia, meio ambiente.

Nanquim Macula

Protesto político, defesa ambiental ou a maternidade, tema caro ao feminismo. Entre os trabalhos mais recentes, duas séries fotográficas e uma videoinstalação integram o projeto de pesquisa intitulado O Poder Materno e a Arte Contemporânea com o qual investiga a representação do maternal na arte contemporânea e sua relação com debates feministas.

Para novembro
A produção de Silvana Macêdo realizada no Reino Unido, voltada aos multimeios, é inédita em Santa Catarina. Algumas das obras criadas naquele país poderão ser vistas pela primeira vez em novembro, no MIS/SC (Museu da Imagem e do Som), em Florianópolis. A exposição Intraduzível reunirá trabalhos colaborativos realizados com a artista finlandesa Henna Asikainen, que conheceu na Inglaterra em 1997 quando estudou na Northumbria University, Newcastle, além do compositor Frederico Macêdo e o astrofísico Reza Tavakol.

O trabalhos que compõem a mostra são uma série de fotografias e quatro instalações, as videoinstalações ar (2001-3) e lua & oceanos (2005-7), a videoinstalação sonora cooperari (2007) e a instalação intitulada trabalho de campo (2017). Henna, que pretende estar no Brasil, vem para celebrar 20 anos de parceria e a apresentação inédita de trabalhos nunca vistos no Brasil. A curadoria de Intraduzível também é de Juliana Crispe.

Sobre a artista
Silvana Macêdo pesquisa o diálogo entre a arte contemporânea, ciência, natureza e tecnologia, o tema de seu doutorado (2003), na Northumbria University, Newcastle Upon Tyne, no Reino Unido. Aprofundou suas pesquisas sobre tecnologia de telepresença em seu trabalho de pós-doutorado sob orientação da Profa. Dra. Diana Domingues na Universidade de Caxias do Sul, em 2005. Desde então desenvolve projetos artísticos que envolvem o uso de tecnologias novas e antigas, high e low tech, sobre a temática do meio ambiente. Mais recentemente pesquisa sobre maternalismos contemporâneos, com foco em debates feministas, abordagem usada no pós-doutorado iniciada na Glasgow School of Art, Escócia (2014), em andamento no Departamento de Artes Visuais (DAV/Ceart/Udesc). Professora efetiva do DAV desde 2006, professora do PPGAV, Udesc, atua nas áreas de pintura, multimeios, instalação multimídia e artes midiáticas.

Serviço
O quê: Performance Maculada, de Silvana Macêdo
Quando 19.9.2017, 18h30
Onde: Memorial Meyer Filho, praça 15 de novembro, n° 180, centro, Florianópolis, tel.: 3333-9743
Quanto: Gratuito

O quê: Exposições Entranhas e Mácula, de Silvana Macêdo
Quando Até 29.9.2017; seg. a sex., 13 às 19h
Onde: Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti e Memorial Meyer Filho, praça 15 de novembro, n° 180, centro, Florianópolis, tel.: 3333-9743
Quanto: Gratuito

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