Os homens andam se sentindo desconfortáveis e oprimidos nesse mundo tomado por feministas e mulheres sem resistências ao livre exercício da sexualidade. É impressionante a oferta de “homens para casar” à disposição no mercado. Vivem desamparados, sem demanda para supri-los. Todos tão prontos para o amor à moda antiga. E as mulheres? As mulheres andam cada vez mais descompromissadas com o recato.

Onde já se viu manter relações sexuais já no primeiro encontro?! Isso certamente tem constrangido os “homens para casar” e os deixado à mercê da própria sorte. Afinal, eles sim podem (e devem?) sempre transar no primeiro dia, na primeira hora, a qualquer lugar. Isso porque, a virilidade (que os deixa sempre em estado de alerta), a hombridade (linda essa palavra, não?) e o cavalheirismo (ele abre a porta e paga a conta), são filhos do mesmo pai: o homem para casar. E mesmo nos bares da vida, nas baladas mais mundanas, esse consegue recuperar toda a sua moral.

O primeiro encontro é um momento especial – quase um teste de fidelidade – principalmente para o homem, ao qual cabe identificar se a mulher serve ou não para a relação conjugal. Se ela aceitar e, pior ainda, retribuir suas investidas é sinal de que não o merece. Pesa sobre esse homem uma mulher que sente o mesmo desejo e isso, sendo inconcebível perante a moral judaico-cristã, torna-se um fardo quase insuportável.

Nos anos 50, a cantora Dolores Duran com sua música de sofrência lamentava a ausência de amantes que lhe procuravam somente nas horas vagas do casamento, e revelava nas entrelinhas que a fidelidade da mulher era tão importante para o homem a ponto de garantir sua honra. Muita coisa mudou nas relações entre homens e mulheres desde os anos 50 (será?), de forma que elas cada vez mais querem se igualar a eles, o que inclui ter direito ao desejo sexual e gozá-lo quando assim achar que o devem.

Porém, o manual da mulher recatada – a que serve para namorar, noivar, casar ou qualquer relacionamento social – esse sim, continua semelhante aos tempos de Dolores, convenientemente conservado para resguardar a honra do homem para casar. Esse guia aconselha que, estrategicamente, guarda-se toda a vontade de transar no primeiro encontro. Talvez seja possível liberar-se um pouco mais no segundo dia, entretanto esse estágio ainda exige cautela.

Já o manual do homem para casar diz que ele sempre está pronto para o sexo e é detentor desse direito não somente por ter mais desejo (mais testosterona, mais cadeiras no legislativo e executivo, mais dinheiro, mais presidências em multinacionais e tudo mais) mas, principalmente, para testar se a mulher serve ou não para manter um relacionamento monogâmico. Se ela sentir o mesmo desejo no primeiro dia, é bem possível que se pareça com ele e, se parecendo, não é confiável.

* Crônica com base em uma conversa num salão de beleza, publicada originalmente em Desacato.info.

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  • Paula Guimarães

    Paula Guimarães é jornalista e cofundadora do Portal Catarinas. Escreve sobre direitos humanos das meninas e mulheres. É...

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