oktober3Há mais de trinta anos, Blumenau realiza a Oktoberfest. O evento projeta Santa Catarina para o Brasil e o exterior e recebe patrocínios desde bancos até o Governo Federal. O que fica de fora da divulgação da festa mais alemã das américas é o assédio que as mulheres sofrem todos os anos. Cantadas grosseiras, passadas de mão e até estupros são situações consideradas tão corriqueiras quanto o próprio chope, atração principal do evento. Ou eram, até o ano passado, quando mulheres da cidade se mobilizaram pela primeira vez na campanha Oktober Sem Machismo.

Pelo segundo outubro consecutivo, a capital do Vale do Itajaí amanheceu colorida de lambe-lambes no dia da abertura do evento. As imagens espalharam o recado das mulheres pela cidade: machismo e misoginia não são sinônimos de festa.

“Não venham me dizer que é por que estão bêbados, por que as mulheres usam roupas que chamam a atenção ou qualquer outra desculpa esfarrapada. O nosso corpo pertence só a nós, ninguém tem o direito de invadir o nosso espaço desse jeito”, alertou Carolina Ignaczuk.

Na página da campanha no Facebook, ela conta que foi assediada antes mesmo de entrar na Vila Germânica, parque onde ocorre a Oktober. “Um cidadão me agarrou pela cintura e não queria me soltar. Lá dentro, a coisa só piorou, com beijos sem permissão, caras pegando na gente sem parar”, relatou.

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Gessicka Mileski Kanopf criou ilustração especialmente para a campanha

A fanpage da campanha recebeu mais de mil curtidas apenas no primeiro dia em que foi criada em 2015, o que demonstra o apelo que o assédio gera entre as participantes da festa. “Esta repercussão é sinal que várias mulheres percebem este tom exagerado, essa agressividade em relação a nós mulheres, e evidencia que não queremos ser tratadas como objeto”,  diz Manoella Back, integrante do Coletivo Casa da Mãe Joana, promotora da campanha.

As organizadoras procuram empoderar as meninas que participam da festa, oferecendo suporte e viabilizando a organização de idas coletivas à festa. “A ideia é cuidarmos umas das outras pois a partir do momento em que uma se sente ameaçada todas nós estamos”, afirma.

Foto: Luiz Guilherme Antonello
Foto: Luiz Guilherme Antonello

Além das situações recorrentes de machismo, a campanha surgiu como resposta à propaganda da cerveja Schin, patrocinadora da Oktober no ano passado. O comercial de TV mostrava quatro homens que encontravam várias mulheres ao passear pela cidade, todas loiras e magras, conforme o padrão de beleza das tradicionais rainhas da Oktoberfest. O vídeo encerrava com uma piada de conotação sexual. “O comercial objetificava completamente as mulheres e a campanha Oktober Sem Machismo foi criada para deixar claro que não somos atrativos turísticos”, conta Manoella.

Diante das críticas e da pressão popular, a cervejaria tirou provisoriamente a propaganda do ar e, em dezembro, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR)  deliberou pela suspensão definitiva após mais de duzentas denúncias feitas contra a peça machista.

 

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  • Ana Claudia Araujo

    Jornalista (UPF/RS), especialista em Políticas Públicas (Udesc/SC), mãe de ninja.

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